UM MUNDO EM QUE UM ZUMBAYLLU CANTA AOS VENTOS É POSSÍVEL
OS DESDOBRAMENTOS DE ERNESTO EM SI MESMO COMO MEDIAÇÃO PARA O DIÁLOGO ENTRE ANTROPOLOGIA E LITERATURA
Keywords:
Literatura e antropologia, Ontologias ameríndias, Literaturas hispânicasAbstract
Este ensaio, resultado de uma disciplina cursada no segundo semestre do ano de 2022, em um programa de pós-graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo, visa reciclar os debates suscitados em aulas voltadas para o explorar da relação entre antropologia e literatura. Com o objetivo de analisar a obra Os Rios Profundos, de José Maria Arguedas, este texto centraliza a figura do personagem Ernesto para localizar as aproximações e os distanciamentos entre as referidas ciências. À guisa de explanação, este ensaio encontra-se organizado da seguinte maneira: 1) algumas reflexões sobre a relação antropologia e literatura a partir de textos como O conceito de ficção (2009), de Juan José Saer e Literatura como antropologia especulativa (2015), de Alexandre Nodari; 2) a apresentação do romance Os Rios Profundos (2005), de José Maria Arguedas, com foco em algumas das experiências do personagem principal Ernesto, notando os conflitos de pressupostos pelos quais ele atravessa; 3) e, por fim, uma discussão acerca dos zumbayllu, uma leitura que os visualize como artefatos de resistência em tempos sombrios, em diálogo com textos como Un mundo ch’ixi es posible (2018), de Silvia Cusicanqui, Pode o subalterno falar? (2010), de Gayatri Spivak, e As existências mínimas (2017), de David Lapoujade. Os resultados deste ensaio apontam que o explorar da relação entre antropologia e literatura viabiliza o forjar de um acervo teórico e reflexivo sobre a presença de ontologias outras em textos literários – verdadeiros tratados sociológicos, que falam a gerações e rompem com posturas reducionistas.
References
ARGUEDAS, José María. Os rios profundos. (Trad. de Josely Vianna Baptista). São Paulo, Companhia das Letras, 2005.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de Teoria e História Literária. 8. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000.
CUSICANQUI, Silvia Rivera. Un mundo ch’ixi es posible. Buenos Aires: Tinta Limón, 2018.
DALCASTAGNÈ, Regina. O espaço da dor: o regime de 64 no romance brasileiro. Editora UnB, 1996.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. São Paulo: Civilização Brasileira, 1968.
JULIO, JULIO CESAR BRIGATTO. Jogando Pião. Original de arte, pintura, 50 X 60 cm. Disponível em: https://www.artmajeur.com/juliobrigato/pt/artworks/2576981/jogando-piao. Acesso em 11 ago. 2022.
LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo, N-1, 2017.
MONTERO, Paula. Reflexões sobre uma antropologia das sociedades complexas. Revista de Antropologia, p. 103-130, 1991.
NATALI, Marcos. Aspectos elementares da insurreição indígena: Notas em torno a Os rios profundos, de José María Arguedas. Literatura e sociedade 2, 2018.
NATALI, Marcos. José María Arguedas aquém da literatura. Estudos Avançados 19 (55), pp. 117-128, 2005.
NODARI, Alexandre. A literatura como antropologia especulativa. Revista da ANPOLL, 2015.
SAER, Juan José. O conceito de ficção. Sopro 15, p.. 1-4, 2009.
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2010
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Copyright (c) 2024 Cine-Forum Collective Journal
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Authors transfer the copyright to the journal as well as the right of first publication, with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License, which allows sharing the work with acknowledgment of authorship and initial publication in this journal.