UMA ANÁLISE DO CONTO “RETRATOS”, DE CAIO FERNANDO ABREU
Palavras-chave:
Caio Fernando Abreu, Retratos, Literatura, SociedadeResumo
Este trabalho tem o objetivo de analisar o conto “Retratos”, publicado em 1975, na obra O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu, observando-se as relações entre literatura e sociedade, conforme defende Antonio Candido (2000). “Retratos” nos apresenta a um narrador-personagem de meia idade, um homem solitário vivendo uma rotina de trabalho desgastante em um escritório de uma grande cidade. Ele passa a questionar seu modo de vida a partir do encontro com um hippie, que se oferece para desenhar seu retrato ao longo de sete dias, mas desaparece antes de vender o último. Assim, a narrativa breve confronta o modo de vida de um trabalhador assalariado de uma grande cidade, que representa a pequena-burguesia, com o modo de vida de um hippie, símbolo da contracultura. Para examinar o conto, as seguintes leituras teóricas foram realizadas: No que se refere à produção ficcional de Abreu nos anos 1970, verificaram-se os trabalhos de Jaime Ginzburg (2005), Flora Sussekind (1985) e Nonato Gurgel (2008). Em relação ao conto sul-rio-grandense, foram consultadas as obras de Gilda Neves Bittencourt (1999) e Regina Zilberman (1992). No que tange aos estudos sobre o indivíduo, abordaram-se as ideias de Lucien Goldmann (1991), além dos trabalhos acadêmicos de Ellen Mariany da Silva Dias (2006), Milena Mulatti Magri (2010) e Luana Teixeira Porto (2012). Para entender a contracultura, estudou-se o trabalho de Carlos Alberto Messeder Pereira (1992). A partir da leitura e análise desses trabalhos, foi possível constatar a relevância de se investigar as relações entre literatura e sociedade na narrativa breve de Caio Fernando Abreu. Podemos encontrar no conto elementos como a coisificação do sujeito na sociedade capitalista e o modo de vida urbano, marcado pela solidão, individualismo e dificuldade de se formar vínculos. Ademais, há o conflito do modo de vida hippie, principal movimento da contracultura, com o modo de vida de um trabalhador assalariado, submisso ao capitalismo, que se desdobra para exercer sua função em um escritório. Apesar de também estar submetido à economia capitalista, o hippie simboliza um ideal de liberdade que atrai o narrador-protagonista do conto, provocando tensões entre este e o meio social do qual faz parte. Além disso, ao considerarmos o momento histórico de produção do conto, no qual o Brasil vivia uma ditadura militar, também é imprescindível nos atentarmos para o tensionamento de ideologias presente no texto, em um momento de repressão a qualquer tipo de resistência. No entanto, para além do tempo histórico, temos personagens que expressam sentimentos universais, possibilitando associações com os dias de hoje, por conta da persistência da fragilidade das relações, da solidão e do individualismo.
Referências
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