UMA PROPOSTA DE REPARAÇÃO HISTÓRICA ATRAVÉS DOS FIGURINOS NA ÓPERA O ENGENHEIRO

Autores

Palavras-chave:

Ópera, O Engenheiro, Figurino, Processo de criação, Reparação

Resumo

Neste artigo, apresentamos um relato do processo de pesquisa artística e científica desenvolvido no Projeto de Extensão Ópera na UFRJ realizado em 2022, em parceria entre diferentes unidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro: a Escola de Música, a Escola de Comunicação, a Escola de Belas Artes e o Fórum de Ciência e Cultura. Ao começo das pesquisas realizadas para a ópera O Engenheiro, a equipe de figurinistas – composta por um professor orientador e dois alunos bolsistas – constatou o anacronismo de algumas réplicas dos personagens no texto composto por Tim Rescala. O protagonista da trama era o engenheiro André Rebouças, homem preto que frequentava a Corte Imperial de D. Pedro II e uma das principais vozes contra a escravidão no Brasil do final do século XIX. No entanto, o texto enfatizava a importância da Princesa Isabel no processo abolicionista, em detrimento do próprio André Rebouças e de outras pessoas pretas cujas participações foram historicamente invisibilizadas. Desta forma, foi necessário encontrar uma solução estética para reverter na mise-en-scène a ultrapassada visão monárquica presente na diegese. Foram realizadas pesquisas com diferentes materiais, texturas e cartelas de cores que evidenciassem visualmente os personagens que representavam ex-escravizados de ganho. O trabalho realizado comprovou a função dos figurinos enquanto signos que transmitem informações não verbais e sua capacidade de subverter o anacronismo do texto original ao direcionar a atenção e o olhar dos espectadores para um determinado grupo de personagens. Apresentamos, aqui, um breve relato desse processo e destacamos duas personagens na montagem realizada por estudantes da UFRJ para, através das suas indumentárias, compreender os verdadeiros heróis sociais do Brasil.

Biografia do Autor

Alice dos Santos Araújo, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Artes Cênicas – Habilitação em Indumentária (EBA/UFRJ). Figurinista e carnavalesca nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, com passagem pelo GRES. Turma da Paz de Madureira.

Leonardo Augusto de Jesus, Faculdade CENSUPEG

Doutor em Artes Visuais (PPGAV/EBA/UFRJ). Pesquisador organizador do Núcleo de Estudos de Carnavais e Festas – NEsCaFe (UFRJ/CNPQ). Professor da Pós-Graduação em Gestão e Design de Carnaval da Faculdade CENSUPEG desde 2024. Foi Professor da Pós-Graduação em Figurino e Carnaval da Universidade Veiga de Almeida (2016 a 2020) e Professor Substituto nos cursos de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes – UFRJ (2021 a 2023). Cenógrafo e figurinista, ganhador do Prêmio Arlequim de Melhor Cenário do Festival de Teatro Cidade do Rio de Janeiro (2010). Carnavalesco nas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, com passagens pela Acadêmicos do Engenho da Rainha e Caprichosos de Pilares, ganhador do Prêmio Machine de Melhor Carnavalesco da Intendente Magalhães (2020).

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Publicado

17.09.2024

Como Citar

Araújo, A. dos S., & Jesus, L. A. de. (2024). UMA PROPOSTA DE REPARAÇÃO HISTÓRICA ATRAVÉS DOS FIGURINOS NA ÓPERA O ENGENHEIRO. Revista Coletivo Cine-Fórum, 2(2), 40–56. Recuperado de https://revistacoletivocine.xyz/index.php/cineforum/article/view/56

Edição

Seção

Artigos