O mandamento prescreve [...] “Tu deves amar o teu próximo como a ti
mesmo”, mas quando o mandamento é compreendido corretamente ele
também diz o inverso: “Tu deves amar a ti mesmo da maneira certa”. Se
alguém não quer aprender do Cristianismo a amar-se a si mesmo da maneira
certa, não poderá, de jeito nenhum, amar o próximo; ele pode assim, talvez,
como se diz, ligar-se a um outro ou a muitos outros homens “para a vida ou
para a morte”, mas isso absolutamente não significa amar o próximo. Amar-
se a si mesmo da maneira certa e amar o próximo se equivalem totalmente, e
no fundo são a mesma coisa (Kierkegaard, 2013a, p. 38).
Com isso, Malick nos leva a pensar que a autêntica unidade não reside apenas na
supressão das diferenças, mas na aceitação e entendimento dessas particularidades, propondo
que, ao entendermos a complexidade do amor e a diversidade das relações humanas, podemos
conduzir a uma conexão mais genuína, que honra a singularidade de cada um, enquanto procura
uma manifestação compartilhada de compaixão e solidariedade. Com essa perspectiva
filosófica, o filme não se limita a ser um mero relato de conflito, mas também uma profunda
reflexão sobre a condição humana individualista e a constante busca por amor e unidade.
Mas a narrativa apresenta um antídoto ao contexto egocentrista da guerra, expondo,
ainda que diante de uma história ao mesmo tempo feroz e contemplativa, momentos em que o
tempo é gasto apenas para observar a paisagem que nos cerca nessa viagem cinematográfica,
tal qual um poema. As pausas seguem ditando o ritmo da cronologia. Ao trazer esses diversos
momentos de trégua, em que as imagens são meramente contemplativas, podemos perceber
que, quanto mais próximo do todo, ou seja, da natureza, mais serenidade e paz é possível ao
homem alcançar.
Ao passar do tempo, o filme de Malick nos faz pensar que é diante da morte que o
espírito mostra sua verdadeira face, momento em que aparecem os verdadeiros herói e em que
os covardes são desmascarados. A loucura, a perda da razão pelo fato de não ter um objeto pelo
qual vale a pena dar a vida. A morte é dor ou glória? No fim, tudo depende apenas do homem
que a olha.
Pensamento este muito presente na obra de Friedrich Nietzsche:
A morte covarde pode ser definida, em poucas palavras, como a experiência
da morte como um acaso, cujo efeito imediato é o desejo de morrer. Nesse
caso, deseja-se morrer porque se morre. A falta de longevidade da vida basta
para que se pregue o abandono da mesma. Aqueles que pensam assim, dirá
Nietzsche, são os pregadores da morte (Nasser, E. (2008) Nietzsche e a Morte.
Cadernos de Filosofia Alemã).
Essa ideia das sensações diante da morte também é bastante trabalha pelo filósofo
Epicuro, principalmente em Carta a Felicidade, como poderemos perceber nessa citação
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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 3 | set-dez | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás