Carta ao Leitor
Caro amigo leitor,
como em um Frankenstein ideológico, neste volume você entrará em contato com uma
série de conflitos, fissuras e resoluções. Não encare o conflito como algo necessariamente ruim,
pejorativo, mas sim como uma harmonia processual da pesquisa acadêmica.
Quando Susan Sontag escreveu sobre a contra-interpretação, a autora não
necessariamente tinha interesse em destruir a ideia de interpretar algo, mas sim em combater
uma materialidade critica baseada em conceitos ocidentais, dicotômicos e maniqueístas,
performáticos de um eterno combate entre o bem o mal. Em Contra a Interpretação, Sontag
aponta um apelo demasiado ao significado e ao conteúdo neste tipo de crítica, ou seja, um
modelo que acaba por retirar todo o impacto sensual e de inovação de uma obra (artística, mas
não só ela). Sendo assim, aqui, encare cada texto como a queda de máscaras de O Anjo
Exterminador, de Bunuel, e ao fim de cada um deles, considere a criação de um pequeno novo
mundo em sua mente. Contemple o início de cada trabalho como um incidente incitante.
O trabalho da pesquisa nasce de uma inconformidade profundamente amorosa, caótica
e, paradoxalmente catártica, como o filme Festen, de Thomas Vinterberg. A profundidade
ritualizada pela costura textual carrega em si árduas horas de leitura e introspecção. Logo,
afirmo que todos os textos selecionados para esta edição são dignos de performarem presença.
Por fim, como Sontag, vejo sensualidade e impacto na totalidade de cada texto aqui presente.
Murilo de Castro
Editor Assistente da Revista Coletivo Cine-Fórum
Mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela UNESPAR
LICENÇA ATRIBUIÇÃO NÃO COMERCIAL 4.0 INTERNACIONAL CREATIVE COMMONS – CC BY-NC