Lucas Soboleswki Flores
https://orcid.org/0009-0005-3052-7422
Bacharel em Comunicação Social - Relações Públicas (UCS), licenciado em Letras - Português
(Uniasselvi), mestre em Letras, Cultura e Regionalidade (UCS) e doutorando em Letras (UFRGS).
Profissionalmente, atua como relações-públicas, gestor e produtor de marketing de conteúdo.
Tamb´ém é professor conteudista e docente no Centro Universitário Alves Faria (Unialfa).
Bachelor in Social Communication - Public Relations (UCS), licensed in Portuguese Language and Literature
(Uniasselvi), Master in Literature, Culture, and Regionality (UCS), and PhD candidate in Literature (UFRGS).
Professionally, works as a public relations specialist, content marketing manager, and producer. Also serves as
a content developer and professor at Alves Faria University Center (Unialfa).
.
Este artigo passou por avaliação por pares cega e software anti-plágio.
LICENÇA ATRIBUIÇÃO NÃO COMERCIAL 4.0 INTERNACIONAL CREATIVE COMMONS CC BY-NC
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ENTRE PÁGINAS E PROMPTS: A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (IA)
COMO FERRAMENTA PARA A ESCRITA DE UM ROMANCE
NATURALISTA
RESUMO
O artigo explora a relação entre o movimento naturalista do século XIX, que enfatizava o determinismo
ambiental e social, e a crescente aplicação da inteligência artificial (IA) na criação literária
contemporânea. Ao examinar obras icônicas do naturalismo, como L'Assommoir, de Émile Zola, e O
Cortiço, de Aluísio Azevedo, o texto destaca a intertextualidade presente nessas narrativas e como elas
refletem as realidades sociais de sua época. A partir dessa análise, o artigo sugere que a IA pode
desempenhar um papel semelhante na literatura moderna, ajudando os escritores a processar e interpretar
grandes quantidades de dados contemporâneos para criar obras que preservem o rigor e a profundidade
característicos do naturalismo. O estudo apresenta um experimento prático em que a IA, por meio de
um chatbot baseado no GPT-4, foi utilizada para desenvolver a estrutura de um romance naturalista,
abrangendo a criação de personagens, enredo e ambientação. O chatbot foi alimentado com informações
sobre o naturalismo e obras literárias clássicas, resultando em uma narrativa que reflete as condições
sociais, econômicas e biológicas dos personagens, em linha com os princípios fundamentais do
movimento literário. O artigo conclui que, apesar das novas oportunidades oferecidas pela IA para a
criação literária, o papel do autor humano continua sendo crucial. A sensibilidade e a intuição humanas
são essenciais para guiar a tecnologia, garantindo que as obras criadas mantenham profundidade e
relevância. A fusão entre a IA e a literatura naturalista não apenas perpetua o movimento, mas também
abre novas possibilidades para a exploração de temas sociais e humanos contemporâneos, ampliando as
fronteiras da criação literária.
Palavras-chave: Inteligência Artificial (IA). Naturalismo. Escrita Criativa. GPT-4.
BETWEEN PAGES AND PROMPTS: ARTIFICIAL INTELLIGENCE (AI) AS A
TOOL FOR WRITING A NATURALIST NOVEL
ABSTRACT
This article explores the relationship between the 19th-century naturalist movement, which emphasized
environmental and social determinism, and the growing application of artificial intelligence (AI) in
contemporary literary creation. By examining iconic naturalist works such as Émile Zola's L'Assommoir
and Aluísio Azevedo's O Cortiço, the text highlights the intertextuality present in these narratives and
how they reflect the social realities of their time. Based on this analysis, the article suggests that AI can
play a similar role in modern literature, helping writers to process and to interpret large amounts of
contemporary data in order to create works that remain faithful to the rigor and depth integral to
naturalism. The study presents a practical experiment in which AI, through a chatbot based on GPT-4,
was used to develop the structure of a naturalist novel, including the development of characters, plot,
and environment. The chatbot was fed information about naturalism and classic literary works, resulting
in a narrative that reflects the social, economic, and biological conditions of the characters, in alignment
with the fundamental principles of the literary movement. The article concludes that, despite the new
opportunities offered by AI for literary creation, the role of the human author remains crucial. Human
sensitivity and intuition are essential to guide the technology, ensuring that the works created maintain
depth and relevance. The fusion of AI and naturalist literature not only perpetuates the movement, but
also opens up new possibilities for exploring contemporary social and human issues, pushing the
boundaries of literary creation.
Keywords: Artificial Intelligence (AI). Naturalist Movement. Creative Writing. GPT-4.
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INTRODUÇÃO
O movimento naturalista, que floresceu no final do século XIX, buscou retratar a vida e
a sociedade com um olhar crítico e científico, enfatizando como o ambiente, a hereditariedade
e os contextos sociais moldam os comportamentos e os destinos humanos. Caracterizado por
sua abordagem determinista, o Naturalismo procurou desvendar as camadas mais profundas da
realidade, frequentemente focando nas classes sociais mais baixas e em temáticas controversas.
Essa escola literária, portanto, representou uma ruptura com o idealismo romântico,
mergulhando em uma investigação minuciosa das condições humanas, sociais e ambientais.
Nas palavras de Émile Zola, representante mais expressivo da escola literária naturalista,
“o Naturalismo é o retorno à natureza; é essa operação que os cientistas fizeram no dia em que
imaginaram partir do estudo dos corpos e dos fenômenos, basear-se na experiência, proceder
pela análise. O Naturalismo, nas letras, é igualmente o retorno à natureza e ao homem, a
observação direta, a anatomia exata, a aceitação, a pintura do que existe”. (Zola, 1982, p. 92).
na contemporaneidade, o advento e a evolução da Inteligência Artificial (IA)
inauguraram uma nova era no campo da criação literária. Ao utilizar linguagem e conceitos de
maneira cada vez mais sofisticada, a IA passou a ser uma ferramenta capaz de gerar textos
criativos, incluindo poesias, narrativas curtas e até romances inteiros. Essa capacidade de criar
conteúdo literário, alimentada por vastos conjuntos de dados e algoritmos avançados, abriu
caminho para experimentações inéditas no âmbito das letras.
A IA pode ser utilizada para absorver e processar uma gama extensa de informações da
realidade contemporânea desde notícias do momento até tendências sociais e ambientais
para criar obras literárias que refletem e questionam o nosso tempo. Acredita-se que a
combinação possibilita ampliar as fronteiras do Naturalismo, permitindo uma exploração ainda
mais profunda e variada da condição humana sob a lente da tecnologia. Pretende-se demonstrar
isso no decorrer deste artigo.
Logo na abertura do conhecido ensaio De cortiço a cortiço, Cândido (1993, p. 111)
observa que “hoje está na moda dizer que uma obra literária é constituída mais a partir de outras
obras, que a precederam, do que em função de estímulos diretos da realidade pessoal, social
ou física”.
O renomado crítico faz essa introdução para contextualizar que “Aluísio Azevedo se
inspirou evidentemente em L'Assommoir, de Émile Zola, para escrever O Cortiço, e por muitos
aspectos o seu livro é um texto segundo, que tomou de empréstimo não apenas a idéia de
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descrever a vida do trabalhador pobre no quadro de um cortiço, mas um bom número de motivos
e pormenores, mais ou menos importantes”. (Cândido, 1993, p. 112).
Essa observação de Cândido evidencia a natureza intertextual da literatura, e sinaliza
como a realidade seja ela pessoal, social ou física e as obras preexistentes se entrelaçam
na concepção literária. Ao levar essa reflexão para o domínio da IA, percebemos uma
oportunidade singular: utilizar a tecnologia não apenas como um meio de emular influências
literárias, mas como uma ferramenta poderosa para capturar e transformar os estímulos diretos
da nossa realidade em narrativas que continuam a tradição naturalista de investigação social e
humana. É sobre isso que trata este artigo.
LITERATURA EM DIÁLOGO: CONEXÕES ENTRE L'ASSOMMOIR E O CORTIÇO
NA VISÃO DE ANTONIO CÂNDIDO
Antes de adentrar na intersecção entre literatura naturalista e inteligência artificial, é
imprescindível compreender a interrelação dos discursos presentes em O Cortiço, de Aluísio
Azevedo, e L'Assommoir, de Émile Zola, pois é essa intertextualidade que forma o alicerce
sobre o qual se assentam as reflexões sobre a modernização do Naturalismo.
O ensaio De cortiço a cortiço, de Antonio Cândido, constitui um ponto de partida
fundamental para essa análise, ao elucidar como O Cortiço não apenas se inspira em
L'Assommoir tomando emprestada a ideia de descrever a vida do trabalhador pobre dentro
de um contexto específico mas também se estabelece como um texto com voz própria,
interpretando e reproduzindo o meio que rodeia o autor. Nesse aspecto, O Cortiço transcende a
mera reprodução de um modelo literário europeu, tornando-se um retrato vívido do Brasil.
A relação entre os dois textos, O Cortiço e L'Assommoir, é complexa e multifacetada.
Cândido elucida que, por um lado, O Cortiço pode ser visto como um "texto segundo", no
sentido de que sua estrutura e temática são influenciadas pela obra de Zola, pioneira na
exploração do Naturalismo na literatura. Essa influência não se limita apenas à escolha do
ambiente um cortiço como microcosmo da sociedade , mas estende-se à forma como os
personagens são moldados pelas forças do meio, da hereditariedade e do contexto social, uma
característica marcante do Naturalismo de Zola.
Um exemplo de semelhança pode ser observado na representação das lavadeiras nos
dois romances analisados. Em L'Assommoir, Gervaise, uma proprietária de lavanderia, acaba
perdendo tudo e recorre à prostituição como meio de sobrevivência. Por outro lado, as
lavadeiras de O Cortiço formam um grupo, tanto de conhecidas quanto de desconhecidas, cujas
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vidas são marcadas por trajetórias trágicas. A exceção é Rita Baiana, que escapa do amargo
destino das suas companheiras ao partir com Jerônimo, o qual deixa para trás sua ex-esposa
Piedade, entregue ao vício e à decadência, e a filha do casal, que parece destinada a seguir o
mesmo caminho da mãe.
No entanto, Cândido (1993) argumenta convincentemente que O Cortiço também é um
"texto primeiro", na medida em que não apenas reflete, mas interpreta a realidade brasileira da
época de Aluísio Azevedo. Essa capacidade de capturar e transmutar o contexto local em uma
obra de arte literária revela uma profundidade e originalidade que transcendem a mera imitação.
O cortiço, nesse sentido, é o Brasil em miniatura, onde as dinâmicas de classe, raça e poder se
entrelaçam de forma única, oferecendo uma perspectiva original sobre a realidade brasileira.
Tanto que o cortiço é retratado praticamente como um organismo vivo, como pode ser analisado
no excerto que abre o terceiro capítulo da obra de Azevedo:
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo não os olhos, mas a
sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras
notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra
de aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia (Azevedo,
2021, p. 31).
Esse duplo papel de O Cortiço simultaneamente influenciado por L'Assommoir e
profundamente enraizado na realidade social e natural brasileira ilustra uma tensão criativa
essencial à literatura produzida em países periféricos. Conforme apontado por Cândido (1993),
a elaboração de um mundo ficcional coerente nesses contextos é simultaneamente moldada pela
influência literária dos países centrais e pela imediata realidade local. Essa interação entre o
global e o local, o universal e o particular, proporciona uma riqueza textual que é tanto um
desafio quanto uma oportunidade para autores que buscam retratar a sua própria sociedade.
BREVE ANÁLISE DA INTERSEÇÃO ENTRE LITERATURA NATURALISTA E
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Ao refletir sobre a possibilidade de uma literatura naturalista moderna, assistida por
Inteligência Artificial, o inter-relacionamento de discursos entre O Cortiço e L'Assommoir
oferece lampejos valiosos. Assim como Aluísio Azevedo dialogou com a obra de Zola para
criar uma narrativa que é ao mesmo tempo universal e profundamente brasileira, a IA pode ser
utilizada para sintetizar influências literárias e informações para desenvolver novas obras.
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Nesse sentido, as tecnologias de data mining e machine learning são exemplos de
ferramentas que podem ser utilizados para dar subsídios aos autores para incorporar dados às
obras literárias desenvolvidas. Trata-se de mais um recurso que pode ser utilizado pelos
escritores que pensam em explorar não apenas o Naturalismo, mas também outros estilos e
movimentos artísticos em suas obras.
Perrone-Moisés (1978, p. 59) elucida que, “em todos os tempos, o texto literário surgiu
relacionado com outros textos anteriores ou contemporâneos”. Sendo assim, os algoritmos de
IA apenas aceleram e redefinem a forma como esse processo de inter-relação é realizado.
Antes de prosseguir com as reflexões e experimentos a que este estudo se propõe,
convém registrar os conceitos de data mining e machine learning. Gabriel (2018, p. 208) define
data mining como “um subcampo interdisciplinar da ciência da computação, que tem por
objetivo descobrir padrões em grandes quantidades”. Também conhecido por mineração de
dados, o processo tem como meta “extrair informações de uma base de dados e transformá-las
em uma estrutura compreensível para uso no futuro” (Gabriel, 2018, p. 208).
machine learning, também tomando como base os estudos de Gabriel (2018, p. 197-
198), é “um campo de IA que lida com algoritmos que permitem a um programa aprender-
ou seja, os programadores humanos não precisam especificar um código que determina as ações
ou previsões que o programa vai realizar em determinada situação”.
Logo, o machine learning permite que programas de IA, como o GPT-4, reconheçam
padrões e similaridades de suas experiências anteriores e assumam ações específicas, de acordo
com os dados com que foram alimentados.
Essa sinergia entre a IA e a literatura expande as fronteiras do possível, permitindo que
o determinismo social e ambiental pedras angulares do Naturalismo sejam investigados
com um novo grau de profundidade e relevância. A IA, munida com ferramentas de análise e
síntese, pode criar histórias que iluminam o impacto das disparidades econômicas e dos desafios
ambientais na vida dos personagens, refletindo assim a essência do determinismo social e
natural com uma fidelidade e uma complexidade sem precedentes.
Além disso, a capacidade da IA de amalgamar e interpretar dados atuais fornece uma
base sólida para narrativas que não apenas espelham, mas também questionam a realidade
contemporânea. Isso se justifica pelo fato de o autor poder utilizar informações mineradas pela
IA, como notícias e pesquisas científicas, para dar subsídio realista às suas obras.
Tal aspecto é fundamental para a continuidade e a evolução do naturalismo literário,
cujo propósito sempre foi oferecer um espelho para a sociedade, apresentando uma
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representação autêntica e, muitas vezes, crítica das suas condições. Assim, a literatura assistida
por IA pode funcionar como uma ferramenta poderosa de compreensão e crítica das dinâmicas
sociais e ambientais do nosso tempo, alinhando-se com o legado do Naturalismo de examinar
a condição humana sob uma perspectiva crítica.
Portanto, a fusão da literatura naturalista com a IA não perpetua o impulso
investigativo desse movimento literário, mas também o transforma, adaptando-o para usar a
tecnologia para refinar e expandir a nossa compreensão das forças que moldam a existência
humana nos panoramas sociais e ambientais.
A IA tem se destacado em diversas áreas no momento atual, muitas vezes vista com
ceticidade e até mesmo encarada como “vilã” por parte da crítica. Porém, é interessante lembrar
que o próprio Naturalismo, quando surgiu, no século XIX, também causou certo desconforto à
sociedade.
Em sua obra O romance experimental e o naturalismo no teatro (1982), Zola aborda o
desconforto causado pelo Naturalismo como resultado de sua abordagem crua e objetiva da
realidade, expondo temas como pobreza, violência, sexualidade e hipocrisia social, que
desafiavam as convenções da época. Para ele, o Naturalismo retratava o comportamento
humano como produto do meio ambiente, da hereditariedade e das condições sociais, rejeitando
idealizações e confrontando valores morais e religiosos tradicionais.
Nas palavras de Zola (1982, p. 93), “é raro que uma revolução se realize na calma e no
bom senso. Os miolos se desequilibram, a imaginação se sobressalta, se torna sombria, se povoa
de fantasmas”.
DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA CRIAÇÃO DE OBRAS LITERÁRIAS COM
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
A integração da IA na criação literária, particularmente no âmbito do Naturalismo, traz
à tona um mosaico de desafios e possibilidades que refletem as complexidades dessa interação
entre tecnologia e criatividade humana. À luz das considerações de Landgrebe e Smith (2023),
a distinção fundamental entre o aprendizado de máquinas e a capacidade humana de aprender
e se adaptar ganha relevância, especialmente ao discutir a aplicação da IA na literatura.
Landgrebe e Smith (2023) argumentam que a noção de aprendizado em máquinas difere
essencialmente da aprendizagem humana. De acordo com os autores, as máquinas, ao
executarem algoritmos de otimização programados com objetivos específicos, como a
minimização de erros, não aprendem no sentido convencional. Essa limitação técnica é
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particularmente desafiadora quando se trata de criar literatura naturalista com IA, uma vez que
a profundidade das narrativas naturalistas requer não apenas a recombinação de dados
existentes, mas uma capacidade de interpretar e refletir sobre complexidades humanas e sociais
de forma nuanciada.
A "criatividade" manifestada pela IA, portanto, pode ser entendida como o resultado da
análise e da recombinação de dados fornecidos pelo autor. Nesse cenário, a ferramenta de IA
não desenvolve autonomamente um estilo próprio de escrita; ela opera dentro dos limites de
seus algoritmos e do conjunto de dados inserido pelo interagente humano. Por isso, acredita-se
que para desenvolver uma obra naturalista com auxílio dos algoritmos digitais, o escritor tem
um papel bastante significativo.
Entretanto, a IA oferece possibilidades intrigantes para a literatura. A capacidade de
personalizar narrativas com base em dados específicos pode proporcionar experiências
literárias altamente relevantes e engajadoras para o leitor, refletindo as suas próprias vivências
e o contexto cultural em que ele está inserido. Além disso, a habilidade de gerar discussões
sobre temas emergentes na sociedade, a partir da análise de dados atuais, coloca a IA como uma
ferramenta potencialmente poderosa para a exploração de questões contemporâneas em um
formato literário.
Consideramos, portanto, que a interação entre o autor e a IA é essencial para superar os
desafios técnicos e éticos da criação literária assistida por IA. O escritor pode definir prompts
1
para guiar a IA na escolha de temas, na moldagem de personagens e na definição de narrativas
que respeitem os princípios do Naturalismo, assegurando que a obra final mantenha uma
conexão genuína com a experiência humana.
EXPERIMENTANDO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DESENVOLVIMENTO
DE UM PROJETO DE ROMANCE NATURALISTA
A partir das análises feitas anteriormente, realizamos um experimento simples, no
intuito de elucidar como a IA pode se tornar uma espécie de parceira dos escritores, sugerindo
temas e desenvolvendo tramas para uma posterior escrita de um romance naturalista. Para o
estudo, utilizamos o programa GPT-4
2
que, como explica Carraro (2023, p. 128), “aceita mais
de uma modalidade de dado como entrada o GPT-4 aceita texto e imagens como entrada”.
1
Um prompt é uma instrução ou conjunto de informações fornecido a um sistema de inteligência artificial ou a outro software para guiá-lo na
execução de uma tarefa específica. Ele serve como ponto de partida para gerar respostas, textos, imagens ou ações, influenciando diretamente
o resultado com base nos detalhes e na clareza das informações fornecidas.
2
O ChatGPT 4.0 (GPT-4) é um avançado modelo de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, projetado para realizar tarefas complexas
de processamento de linguagem natural. Ele é capaz de compreender e gerar textos em diversos idiomas, responder a perguntas, criar conteúdo
criativos, auxiliar em estudos e solucionar problemas técnicos, entre outras funcionalidades. Com maior precisão, contexto aprimorado e
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Já o método de machine learning utilizado para “treinar” a IA é o que Carraro (2023, p.
32) chama de aprendizado não supervisionado. De acordo com o autor, essa metodologia
“consiste em tentar encontrar padrões ‘escondidos’ nos dados e, assim, agrupá-los ou aprender
possíveis relações entre eles”.
Uma vez que o método foi definido, utilizamos o GPT-4 para criar um chatbot, ao qual
foi dado o nome de “Naturalismo”. A ferramenta de IA foi alimentada com um resumo sobre
as características do Naturalismo literário, elaborado pelo autor deste trabalho, e com dois
arquivos em formato PDF contendo, respectivamente, os romances A Taberna (L'Assommoir),
de Émile Zola, e O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Os romances foram escolhidos por terem sido
comparados por Cândido (1993) e também considerados pelo crítico como exemplos do
Naturalismo.
Figura 1 Captura de tela do chatbot criado no GPT-4
Fonte: o autor (2024)
Uma vez criado o chatbot, iniciamos uma “conversa” com a IA que tenta gerar textos
escritos com o estilo naturalista, a partir do cruzamento dos conceitos e das obras fornecidas de
Zola e Azevedo. Tal interação teve como propósito gerar a estrutura de um romance naturalista
para que, posteriormente, fosse desenvolvido por um escritor humano. No Quadro 1,
apresentamos a reprodução na íntegra.
capacidade de interagir de forma mais natural, o ChatGPT 4.0 se destaca pela sua versatilidade, sendo amplamente utilizado em áreas como
educação, negócios, programação e suporte ao cliente.
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Quadro 1 Interação entre o autor e o chatbot Naturalismo
PROMPT ENVIADO PELO AUTOR
RESPOSTA GERADA PELO GPT-4
Juntos, vamos fazer a construção de um
enredo de um romance naturalista. Para
começar selecione um ambiente específico
para a nossa história, que pode ser um
bairro, uma cidade ou uma comunidade
com características únicas. Esse cenário
deve servir como uma força ativa na trama,
influenciando os personagens e seus
desdobramentos.
Nossa história se passa em Vale das Sombras, uma cidade
mineradora do século XIX, marcada pela exploração em minas
de carvão. A vida dos habitantes é profundamente influenciada
pela atmosfera sombria, poluída e pelas duras condições de
trabalho. A disparidade entre a riqueza dos proprietários das
minas e a pobreza dos trabalhadores evidencia as injustiças
sociais. Este cenário, quase um personagem, reflete sobre a
hereditariedade, o meio ambiente, e a luta de classes.
Agora, crie personagens que são produtos
do ambiente social e biológico do Vale das
Sombras. Isso inclui considerar
hereditariedade, educação, condições
sociais e econômicas, e como esses fatores
moldam as personalidades, decisões e
destinos.
Jean Moreau - Jean é um minerador de terceira geração no Vale
das Sombras. Herdou de seu pai e avô não apenas a profissão,
mas também uma tosse crônica e a resiliência frente à
adversidade. Criado em uma casa modesta, perto das minas, Jean
desenvolveu uma força física impressionante e uma
determinação férrea, características necessárias para sobreviver
em seu ambiente. Sua educação limitada, restrita ao aprendizado
prático das minas, e as condições econômicas precárias o
tornaram cético em relação à mudança social, mas
profundamente solidário com seus companheiros de trabalho.
Marie Lefevre - Marie é filha de um pequeno comerciante do
Vale das Sombras, que conseguiu enviar a filha para estudar na
cidade grande, graças a um sacrifício imenso. Ao voltar para o
vale com ideias progressistas e uma visão de mundo ampliada,
Marie se encontra em conflito com as tradições e a mentalidade
fechada de sua comunidade. Ela sonha em usar sua educação para
melhorar as condições de vida no vale, mas enfrenta resistência
tanto da classe operária quanto dos proprietários das minas.
Monsieur Dubois - Proprietário de uma das maiores minas de
carvão do Vale das Sombras, Dubois é a personificação da elite
industrial do século XIX. Vindo de uma longa linhagem de
empresários, ele vê a exploração das minas e dos trabalhadores
como um direito hereditário e uma necessidade econômica.
Dubois é educado nas melhores escolas da Europa, o que lhe
uma perspectiva cosmopolita, mas sua educação não consegue
dissolver a indiferença pelas dificuldades enfrentadas pelos seus
operários. Seu destino está intrinsecamente ligado à prosperidade
ou à rna do Vale das Sombras, à medida que pressões sociais
começam a emergir.
Dentro do contexto que estamos criando, ou
seja, na cidade do Vale das Sombras e
usando os personagens que criamos,
construa uma sinopse em torno da ideia de
que o comportamento humano é
determinado por fatores ambientais e
genéticos. As ações e o destino dos
personagens devem parecer inevitáveis,
dados os seus contextos de vida.
No Vale das Sombras, uma cidade mineradora dominada pelas
sombras de suas minas de carvão, os destinos de Jean Moreau,
Marie Lefevre e Monsieur Dubois são entrelaçados em uma
narrativa que explora a profundidade do determinismo ambiental
e genético. Jean, um robusto minerador de terceira geração,
carrega em seus pulmões o peso da hereditariedade e do trabalho
árduo, lutando diariamente contra a névoa de carvão que define
sua existência. Marie, educada longe das sombras da cidade,
retorna com ideais de reforma e progresso, apenas para descobrir
que suas intenções se chocam contra as duras realidades e
resistências culturais do vale. Monsieur Dubois, o imponente
proprietário das minas, seu império e sua própria identidade
como produtos inevitáveis de sua linhagem e do ambiente
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industrial que governa com mão de ferro.
Conforme os três personagens navegam pelas complexidades de
suas vidas no Vale das Sombras, suas histórias revelam como os
fatores ambientais e genéticos moldam os caminhos humanos de
maneira profunda e muitas vezes intransponível. Jean, incapaz de
escapar da sina de sua classe trabalhadora, Marie, frustrada em
suas tentativas de instigar mudança, e Dubois, preso em sua
percepção de direito e poder, ilustram a premissa naturalista de
que os seres humanos são produtos inevitáveis de seus ambientes
e heranças. Através de suas interações e conflitos, a sinopse
desdobra uma narrativa de luta, esperança e resignação,
sublinhando a ideia de que, no Vale das Sombras, o destino de
cada um parece inevitável, um eco sombrio das minas que tanto
definem quanto consomem suas vidas.
Complemente a narrativa expondo e
criticando injustiças sociais, econômicas e
morais. Isso pode incluir a exploração de
trabalhadores, disparidades de classe,
decadência moral, e outros problemas
sociais, retratando-os de maneira realista e
muitas vezes crua.
A narrativa do Vale das Sombras se aprofunda na crítica às
injustiças sociais, econômicas e morais que afligem sua
comunidade. A exploração dos trabalhadores nas minas de
carvão, um reflexo das condições desumanas do século XIX,
serve como ponto central dessa crítica. Jean Moreau,
simbolizando a classe trabalhadora, enfrenta jornadas exaustivas
sob riscos de acidentes fatais e doenças respiratórias, sem
perspectiva de melhora ou escape devido à sua posição
socioeconômica hereditária e à manipulação empresarial por
parte de figuras como Monsieur Dubois (Energy History)
(19thCentury).
A disparidade de classe é escancarada na diferença entre as
moradias precárias dos mineiros e as opulentas residências dos
proprietários das minas, como Dubois, evidenciando uma
sociedade fraturada pela riqueza e pelo poder. Este último, apesar
de sua educação e visão de mundo ampla, opta pela manutenção
de um sistema que o beneficia, ignorando as atrocidades
cometidas sob sua administração. Seu domínio se estende além
do trabalho, controlando aspectos da vida cotidiana por meio das
lojas de companhia, que endividam ainda mais os trabalhadores,
prendendo-os em um ciclo de dependência (Energy History).
Marie Lefevre, por outro lado, tenta sem sucesso implantar ideias
progressistas e promover mudanças, encontrando resistência
tanto da elite quanto de seus conterrâneos, que a veem como uma
ameaça ao precário equilíbrio de sua existência. Sua luta ilumina
a decadência moral e a resistência à mudança de uma
comunidade apegada a seus meios de sobrevivência, por mais
miseráveis que sejam.
Ao entrelaçar esses elementos, a narrativa não apenas expõe as
crueldades e as desigualdades do ambiente industrial do século
XIX, mas também questiona a capacidade de mudança dentro de
um sistema tão profundamente arraigado em suas injustiças. A
inevitabilidade do destino de cada personagem, moldado por
forças sociais e econômicas maiores do que eles, reflete uma
crítica mordaz à ideia de progresso quando construído sobre a
exploração e o sofrimento humano.
Complemente mais ainda, considerando
que embora a narrativa deva ser realista e
objetiva, ela também deve ter um propósito
Enquanto a narrativa do Vale das Sombras se aprofunda na
realidade sombria das injustiças sociais e econômicas, ela
também carrega um propósito reformista, buscando não apenas
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reformista subjacente, visando provocar
reflexão e potencialmente inspirar
mudanças na sociedade ao revelar verdades
desconforveis sobre a condição humana.
expor as cruéis verdades sobre a condição humana, mas também
inspirar mudanças na sociedade. Essa camada de reflexão se
manifesta através da jornada de Marie Lefevre, cujos esforços
para implementar reformas são inicialmente frustrados, mas
semeiam lentamente as sementes da conscientização e da
esperança entre os habitantes do vale.
Através da luta de Marie e das condições de vida dos
trabalhadores, a narrativa desafia os leitores a confrontar as
realidades muitas vezes invisíveis das desigualdades estruturais
e da exploração. A história de Jean Moreau e seus colegas
mineiros, suportando as adversidades por herança e necessidade,
destaca a urgência de reformas trabalhistas e ambientais,
enquanto a postura de Monsieur Dubois revela a resistência
enraizada das elites ao progresso social.
Ao retratar a mobilização dos mineiros por melhores condições
de trabalho e a crescente consciência coletiva sobre seus direitos
e dignidade, o enredo incentiva uma reflexão sobre a importância
da solidariedade, da luta sindical e da intervenção governamental
na proteção dos trabalhadores (Energy History) (19thCentury). A
inclusão de detalhes sobre as reformas trabalhistas históricas,
como a National Industrial Recovery Act, serve como um
lembrete do poder da ação coletiva e da legislação na conquista
de mudanças sociais significativas (Energy History).
Embora a narrativa seja imersa em realismo e crueldade, o seu
propósito reformista é claramente visível na evolução dos
personagens e na transformação gradual da comunidade. Ao
revelar as condições opressivas do Vale das Sombras, o romance
convida os leitores a reconhecer as injustiças em suas próprias
sociedades e a considerar o papel que podem desempenhar na
promoção de mudanças. A história se torna, assim, um chamado
à ão, não só para refletir sobre as verdades desconfortáveis que
descreve, mas também para inspirar esforços para construir um
mundo mais justo e humano.
Fonte: o autor (2024)
Ao analisarmos o Quadro 1, podemos perceber que, conforme o autor interage e instiga
o chatbot, a IA vai aperfeiçoando a sua narrativa e estabelecendo conexões, para que a sinopse
desenvolvida esteja mais alinhada com o contexto do Naturalismo.
Outra observação interessante é que, sem nenhuma interferência do autor, a IA optou
por criar um ambiente similar ao utilizado nas obras de Zola, para que a história tomasse forma.
O mesmo acontece com o nome dos personagens, que são franceses, tal qual os de L'Assommoir,
uma das obras oferecidas para “alimentar” o GPT-4.
Isso vai ao encontro do exemplo oferecido por Carraro (2023), ao exemplificar como o
método do aprendizado não supervisionado é útil para estratégias de agrupamento e associação
de dados. Nas palavras do autor:
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Algo similar ocorre quando nos mudamos para uma nova cidade onde não
conhecemos ninguém. Inicialmente, tudo parece um enorme caos e a estrutura
urbana não faz sentido para nós. Porém, com o tempo, começamos a perceber
alguns padrões como “nessa rua tem muitos bares e baladas”, “esse é um
bairro residencial”, “nessa zona existem ótimos restaurantes asiáticos”,
“esses são os ônibus que posso tomar para ir para casa, e aquele caos inicial
passa a ter alguma lógica (Carraro, 2023, p. 33).
Podemos interpretar, portanto, que o GPT-4 assimilou as características de uma das
obras enviadas como fonte e compreendeu até mesmo pontos que não haviam sido solicitados
pelos comandos fornecidos pelo autor.
Uma vez que a sinopse foi criada, o autor solicitou ao chatbot que gerasse um sumário
para o romance que está sendo desenvolvido. Foi pedido que a IA sugerisse títulos para os
capítulos, bem como fizesse uma breve descrição de cada um deles. Após isso, foi solicitado
que um título fosse dado ao romance. Tudo isso é mostrado no Quadro 2:
Quadro 2 Interação entre o autor e o chatbot Naturalismo
PROMPT ENVIADO PELO AUTOR
RESPOSTA GERADA PELO GPT-4
Agora faça uma sugestão de sumário para o
romance, destacando o nome do capítulo e o
que acontece em cada um deles. Devem ser
10 capitulos.
1. Nas Sombras do Vale - Apresenta o Vale das Sombras,
descrevendo suas minas de carvão e a disparidade entre a vida
dos trabalhadores e dos proprietários das minas, estabelecendo
o cenário para a narrativa.
2. Herança de Poeira e Fumaça - Foca em Jean Moreau,
explorando sua herança como mineiro de terceira geração, suas
lutas diárias nas minas e os efeitos da hereditariedade e do
ambiente em sua vida.
3. Visões Além do Vale - Introduz Marie Lefevre, detalhando
seu retorno ao Vale das Sombras após anos de educação na
cidade, cheia de esperanças de reforma e progresso, e o choque
de realidade ao se deparar com a resistência do local.
4. Os Pilares de Dubois - Examina a vida de Monsieur Dubois,
seu império nas minas de carvão, e como ele justifica a
exploração e o controle sobre os trabalhadores como parte de
seu direito hereditário e visão de progresso.
5. Ecos de Rebelião - Narra o crescente descontentamento
entre os trabalhadores, influenciado pela determinação de
Marie e pela solidariedade de Jean, culminando em uma greve
por melhores condições de trabalho.
6. A Queda do Orgulho - Descreve as tensões entre os
mineiros e Monsieur Dubois, as negociações falhas e as
consequências brutais da greve, ilustrando a luta de classes e o
custo humano da ganância.
7. Luz nas Trevas - Segue os esforços de Marie para educar e
mobilizar a comunidade, apesar da oposição, semeando as
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bases para a mudança através da conscientização e do ativismo.
8. O Peso da Tradição - Expõe os desafios internos
enfrentados por Jean e seus companheiros mineiros ao
questionar suas próprias crenças e o ciclo de pobreza e
exploração que parece inevitável.
9. Alvorada de Mudança - Mostra os primeiros sinais de
progresso no Vale das Sombras, com mudanças legislativas e
sociais lentamente sendo implementadas, graças à pressão
contínua dos trabalhadores e aliados.
10. Sombras e Luz - Encerra a narrativa com uma reflexão
sobre as mudanças ocorridas no Vale, os sacrifícios feitos e os
desafios que ainda existem, deixando um sentimento de
esperança misturado com a realidade inabalável do
determinismo social e econômico.
Agora sugira um título para o romance, que
seja curto e impactante
"Sob as Cinzas do Vale"
Fonte: o autor (2024)
Como apresentado no Quadro 2, o romance criado em colaboração entre IA e humano
poderia ter como título “Sob as cinzas do Vale”. Além disso, há um enredo a ser desenvolvido
em cada capítulo, que pode servir de inspiração para que o escritor dê sequência ao trabalho e
chegue até mesmo a publicar uma nova obra naturalista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O experimento prático realizado com o GPT-4 demonstrou a viabilidade e o valor
significativo da interação entre IA e autores na criação literária. A capacidade da IA de gerar
sinopses, sumários e até títulos para um romance naturalista ilustra como essa tecnologia pode
servir de ferramenta auxiliar no processo criativo, permitindo aos autores explorar novas
dimensões em seus trabalhos.
A utilização da IA para inspirar ou reproduzir estilos literários específicos abre um leque
de possibilidades para a experimentação e inovação no campo da literatura. No caso do
Naturalismo, um estilo que se aprofunda nas condições humanas e sociais com um olhar crítico
e detalhado, a IA pode ajudar a captar e processar uma vasta gama de dados sobre a realidade
contemporânea. Isso, por sua vez, permite a criação de narrativas que refletem com precisão as
complexidades e nuances do mundo atual, mantendo-se fiéis aos princípios do movimento
literário.
Contudo, é imperativo reconhecer que a implementação da IA na literatura não está
isenta de desafios, particularmente no que se refere a questões éticas, como a originalidade da
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obra, o direito autoral e a privacidade dos dados utilizados. Ainda assim, o foco deste
experimento foi destacar como a interação entre IA e literatura é não apenas viável, mas também
tende a se tornar uma prática cada vez mais comum em determinados gêneros literários.
É evidente que, enquanto a IA tem o potencial de transformar a maneira como histórias
e romances são concebidos e desenvolvidos, o papel do autor permanece insubstituível. A
sensibilidade, a intuição e a capacidade de interpretação humana são essenciais para guiar a IA,
assegurando que as obras literárias produzidas sejam enriquecidas com a profundidade e a
complexidade que caracterizam a experiência humana.
Em suma, a interação entre IA e autores no campo da literatura representa um avanço
promissor, abrindo novos caminhos para a exploração de temas, estilos e narrativas. À medida
que continuamos a explorar essas possibilidades, devemos proceder com cautela, garantindo
que as inovações tecnológicas sejam empregadas de maneira ética e responsável, enriquecendo
o patrimônio literário sem comprometer os valores fundamentais da criação artística.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Londrina, PR: Livrarias Família Cristã, 2021.
CÂNDIDO, Antônio. De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas
Cidades, 1993.
CARRARO, Fabrício. Inteligência Artificial e ChatGPT: da revolução dos modelos de IA
generativa à engenharia de prompt. São Paulo: Casa do Código, 2023.
GABRIEL, Martha. Você, eu e os robôs: pequeno manual do mundo digital. São Paulo,
Atlas, 2018.
LANDGREBE, Jobst; SMITH, Barry. Why machines will never rule the world: Artificial
Intelligence without fear. New York: Routledge, 2023.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica, escritura. São Paulo: Ática, 1978.
ZOLA, Émile. A taberna. São Paulo: Cia. Brasil, 1956.
ZOLA, Émile. O romance experimental e o naturalismo no teatro. São Paulo: Perspectiva,
1982.