Murilo de Castro
https://orcid.org/0009-0008-3631-0533
Mestrando em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV Unespar / FAP); Membro do Grupo de
Pesquisa Eikos (Unespar/PPG CINEAV/CNPq); Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos de
Cinema e Audiovisual (SOCINE); Integrante do Coletivo Cine-Fórum; Editor Assistente da Revista
Coletivo Cine-Fórum (RECOCINE); colaborador da Revista Não Durmo. E-mail:
murilo.castro@estudante.unespar.edu.br / ilyich.murilo@gmail.com.
Master's student in Cinema and Video Arts (PPG-CINEAV Unespar / FAP); Member of the Eikos
Research Group (Unespar/PPG CINEAV/CNPq); Member of the Brazilian Society of Cinema and
Audiovisual Studies (SOCINE); Member of the Cine-Fórum Collective; Assistant Editor of the
Coletivo Cine-Fórum Journal (RECOCINE); Contributor to the Não Durmo Journal. Email:
murilo.castro@estudante.unespar.edu.br / ilyich.murilo@gmail.com.
Este artigo passou por avaliação por pares cega e software anti-plágio.
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VERTICALIDADE CANIBAL, OU QUANDO MARINA DE VAN
ENCONTROU COM MAYA DEREN EM “DANS MA PEAU” (2002)
POESIA, CARNE E SANGUE
RESUMO
O presente ensaio estabelece uma conversa entre o Cinema Vertical, braço este do Cinema de Poesia
que foi desenvolvido por Maya Deren durante seus anos de carreira, e o filme Dans ma Peau” / In my
Skin”, dirigido, roteirizado e performado por Marina de Van em 2002. O artigo conta com uma análise
fílmica imanente, não se importando com os aspectos estruturais da obra. Em tese, o texto se preocupa
com o seguinte quadro: Os sentidos, signos e sentimentos postos no filme o dirigem ao Cinema de Poesia
de Deren?
Palavras-chave: Cinema de Poesia; Cinema Vertical; Dans ma Peau; Maya Deren; Marina de Van.
CANNIBAL VERTICALITY, OR WHEN MARINA DE VAN MET MAYA DEREN IN
"DANS MA PEAU" (2002) POETRY, FLESH, AND BLOOD
ABSTRACT
The present essay establishes a dialogue between Vertical Cinema, a branch of Cinema of Poetry
developed by Maya Deren during her career, and the film "Dans ma Peau" / "In My Skin," directed,
written, and performed by Marina de Van in 2002. The article includes an immanent film analysis,
disregarding the structural aspects of the work. In theory, the text is concerned with the following
question: Do the senses, signs, and feelings presented in the film direct it towards Deren's Cinema of
Poetry?
Keywords: Cinema of Poetry; Vertical Cinema; Dans ma Peau; Maya Deren; Marina de Van.
É, assim, absolutamente necessário morrer, porque, enquanto estamos vivos, falta-
nos sentido, e a linguagem da nossa vida (com que nos expressamos e a que, por
conseguinte, atribuímos a máxima importância) é intraduzível: um caos de
possibilidades, uma busca de relações e de significados sem solução de continuidade.
A morte realiza uma montagem fulminante da nossa vida.
Píer Paolo Pasolini, Empirismo Herege
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UM CORTE VERTICAL
Indiscutivelmente, aquilo que nos conecta com todos os outros seres é o sangue, e além
dele, outros pontuais semelhanças. Tipo A, B, AB e O, positivos ou negativos, doadores
universais ou não, soropositivos; vermelhos! Nunca azuis! Estes que morram na guilhotina.
Também é ele, o sangue, uma das colunas gregas do cinema de horror. Não só visual, também
como uma figura como bem enquadraria Žižek fantasmática. Como diria o amoral
nitzscheano e imortal personagem de Mojica: “O que é a vida? É o princípio da morte. O que
é a morte? É o fim da vida. O que é a existência? É a continuidade do sangue. O que é o
sangue? É a razão da existência”. Ao horror, a regra: jamais se esqueça do sangue!
No cinema francês, o sangue parece ser sempre uma constante. Desde a representação
fantasmática com a cabeça cortada de Méliès, passando pelos Les yeux sans visage” (1960),
de Franju, aa sua materialidade biológica em Grave” (2016), de Julia Ducurnau. Na primeira
metade dos anos 2000, uma aberração conceitual foi cunhada pelo crítico canadense James
Quandt; New French Extremityfoi a ideia que sujou a visão estúpida das linhas de Quandt
em seu artigo de opinião Flesh & Blood: Sex and Violence in Recent French Cinema”,
publicado na revista Artforum.
O crítico que busca novas tendências poderia chamá-la de New French
Extremity, essa recente tendência que trabalha o transgressivo intencional por
diretores como François Ozon, Gaspar Noé, Catherine Breillat, Philippe
Grandrieux e agora, infelizmente, Dumont. Tanto Bava quanto Bataille,
Salò assim como Sade parecem ser os determinantes de um cinema de repente
decidido a quebrar todos os tabus, a mergulhar em rios de vísceras e jorros de
esperma, a preencher cada quadro com carne, bil ou nodosa, e submetê-la a
todo tipo de penetração, mutilação e profanação. Imagens e temas que eram
antes provenientes de filmes gore, exploitation e pornô estupros coletivos,
espancamentos e cortes e cegueiras, ereções e vulvas, canibalismo,
sadomasoquismo e incesto, sexo e fisting, jorros de esperma e gore -
proliferam nos ambientes de alta arte de um cinema nacional cujas
provocações historicamente foram formais, políticas ou filosóficas (Godard,
Clouzot, Debord) ou, em sua forma mais imoderada (Franju, Buñuel,
Walerian Borowczyk, Andrzej Zulawski), pelo menos assimiláveis como
emanações de um movimento artístico (principalmente o Surrealismo). Um
tipo de espírito irredentista de incitamento e confrontação, revivendo as
sagradas tradições de gala do cinema maldito, do épater les bourgeois e amour
fou, explicaria as táticas de choque empregadas no recente cinema francês?
Ou elas revelam uma crise cultural, forçando os cineastas franceses a
responder à morte do inelutável (identidade francesa, língua, ideologia,
formas estéticas) com medidas desesperadas? (Quandt, 2004, on-line, n.p.,
tradução nossa)
1
.
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Do original: The critic truffle-snuffing for trends might call it the New French Extremity, this recent tendency
to the willfully transgressive by directors like François Ozon, Gaspar Noé, Catherine Breillat, Philippe Grandrieux
and now, alas, Dumont. Bava as much as Bataille, Salò no less than Sade seem the determinants of a cinema
suddenly determined to break every taboo, to wade in rivers of viscera and spumes of sperm, to fill each frame
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Em pouco, Quandt acertou em sua definição. Na verdade, foi feliz apenas ao definir o
“inelutável”. De fato, tal onda do extremismo francês realmente se importa com identidades,
ideologias e formas estéticas, porém não da forma chula que Quandt evoca no texto. Mesmo
que de forma inconsciente, o extremismo francês dos anos 2000 possui um quê de vanguarda,
uma vez que passou longe de ser idealizado dentro de círculos, entre amigos e companhias
específicas. Diferente do Dogma 95, proposto por Trier e Vinterberg, o extremismo francês não
possui um manifesto.
Figura 1 - Still da sequência inicial de Dans ma Peau.
Fonte: Marina de Van, 2002
Na onda do extremismo francês, logo após a virada do milênio, em 2002, Marina de
Van debuta nos longas. Dirigindo, roteirizando e performando, lança Dans ma Peau, onde
Esther, uma jovem em ascensão profissional, após sofrer um acidente, rasgando parte de sua
pele, acaba criando uma obsessão doentia com o seu próprio corpo.
VIVER É UMA IMPOSSIBILIDADE COLETIVA
De início, Esther participa de alguma festa de importância mínima à trama. Tentando
tirar um tempo para si mesma, decide ir caminhar no bosque próximo à casa em que se encontra.
Em meio às árvores e objetos de construção civil, a pouca luz da noite não favorece em nada o
trajeto de Esther, a fazendo tropeçar em algo e rasgar sua perna em alguma das ferramentas
presentes no local. De Van sempre mantém Esther à frente da trama. Os personagens que a
with flesh, nubile or gnarled, and subject it to all manner of penetration, mutilation, and defilement. Images and
subjects once the provenance of splatter films, exploitation flicks, and porn gang rapes, bashings and slashings
and blindings, hard-ons and vulvas, cannibalism, sadomasochism and incest, fucking and fisting, sluices of cum
and gore proliferate in the high-art environs of a national cinema whose provocations have historically been
formal, political, or philosophical (Godard, Clouzot, Debord) or, at their most immoderate (Franju, Buñuel,
Walerian Borowczyk, Andrzej Zulawski), at least assimilable as emanations of an artistic movement (Surrealism
mostly). Does a kind of irredentist spirit of incitement and confrontation, reviving the hallowed Gallic traditions
of the film maudit, of épater les bourgeois and amour fou, account for the shock tactics employed in recent French
cinema? Or do they bespeak a cultural crisis, forcing French filmmakers to respond to the death of the ineluctable
(French identity, language, ideology, aesthetic forms) with desperate measures?”
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orbitam são como borrões. Pouco importam. Desde o médico que a atende na noite de seu
acidente até seu noivo, interpretado por Laurent Lucas, o Cristo corrompido de Calvaire (2004),
dirigido por Fabrice du Welz.
Figura 2 Esther caída em meio às ferragens.
Fonte: Marina de Van, 2002
Não sentir dor alguma no local de seu ferimento a preocupa muito mais do que ele em
si. Conforme os dias se passam, a jovem estuda mais seu corpo, em busca de entender como a
dor não era mais possível. Esther se automutila por diversas vezes durante o filme. Sempre
sozinha, escondida, no extracampo da sociedade. Como em Elle (2016), de Verhoeven, a
personagem nutre uma vontade de olhar para dentro de um algo, buscando compreender
motivações, vontades e antigos segredos. No filme de Verhoeven, Elle desprende alguns
segundos olhando para o cérebro de seu abusador, aqui, Esther olha para dentro de si mesma.
Maya Deren (1963) propõe que, para o Cinema Vertical, o que importa à poesia não é
necessariamente a materialidade daquilo, mas sim a sua pulsão inconsciente:
[...] A distinção da poesia está na sua construção (o que quero dizer com "uma
estrutura poética"), e a construção poética surge do fato, se quiser, de que é
uma investigação "vertical" de uma situação, na medida em que investiga as
ramificações do momento e está preocupada com suas qualidades e sua
profundidade, de modo que você tem a poesia preocupada, em certo sentido,
não com o que está ocorrendo, mas com o que parece ou o que significa. Um
poema, na minha opinião, cria formas visuais ou auditivas para algo que é
invisível, que é o sentimento, ou a emoção, ou o conteúdo metafísico do
movimento. Agora, isso também pode incluir ação, mas seu ataque é o que eu
chamaria de "ataque vertical", e isso pode ficar um pouco mais claro se você
o contrastar com o que eu chamaria de "ataque horizontal" de um drama, que
está preocupado com o desenvolvimento, digamos, dentro de uma situação
muito pequena, de sentimento a sentimento (Deren, 1963, on-line, n.p,
tradução nossa)
2
.
2
Do original: The distinction of poetry is its construction (what I mean by "a poetic structure"), and the poetic
construct arises from the fact, if you will, that it is a "vertical" investigation of a situation, in that it probes the
ramifications of the moment, and is concerned with its qualities and its depth, so that you have poetry concerned
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Resumindo a posição de Maya, Ferro (2023), aponta que todo o encadeamento das cenas
se dá por meio dos sentimentos:
[...] No cinema vertical, as incursões poéticas surgem do aprofundamento das
sensações que o filme evoca e todo o encadeamento das cenas se dá por meio
desses sentimentos. O filme, então, não está preocupado com o plano das
ações, mas com a ligação delas com as sensações, que, para ela, são a base da
construção da poesia, ou seja, uma abordagem da experiência. (Ferro, 2023,
p. 30)
Sendo assim, neste caso, mesmo que o filme de Marina siga a narrativa convencional
do cinema, a verticalidade, como braço do cinema de poesia, se faz presente através da intensa
busca que Esther têm acerca do autorreconhecimento de suas entranhas, um algo interior
próprio. Mesmo que, enquanto se corta, a personagem não demonstre motivações lógicas
extremas. Para Xavier (1993) e Pasolini “[...] o poético corresponde àquela opacidade pela qual
o meio de expressão se faz ver, exibe estruturas de outro modo inconscientes”, ou seja, a
presença da pulsão inconsciente de Esther é, em muito, o fio narrativo da trama. Indo de
encontro com a Subjetiva Indireta Livre, de Pier Paolo.
Figura 3 Esther em seu trabalho após se mutilar.
Fonte: Marina de Van, 2002
UM JANTAR SINGULAR
Após Vincent (Laurent Lucas), seu companheiro, a questionar violentamente sobre os
seus ferimentos, Esther vai ao importante jantar de negócios em que foi convidada pelo seu
chefe previamente, uma vez que recentemente tinha sido promovida. À mesa, quatro pessoas:
Esther, seu chefe e outros dois possíveis investidores, um homem e uma mulher. Seus nomes
in a sense not with what is occuring, but with what it feels like or what it means. A poem, to my mind, creates
visible or auditory forms for something which is invisible, which is the feeling, or the emotion, or the metaphysical
content of the movement. Now it also may include action, but its attack is what I could call the "vertical" attack,
and this may be a little bit clearer if you will contrast it to what I would call the "horizontal" attack of a drama,
which is concerned with the development, let's say, within a very small situation from feeling to feeling.
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realmente não importam, em nenhum outro momento são jogados na trama. A cena do
restaurante é o ponto alto do longa, e o maior ponto de identidade vertical. Aos poucos,
percebemos o desconforto de Esther meio àquelas pessoas, ao seu novo status social. A jovem
não se sente parte daquilo. Ao receber seu prato, um belo pedaço de carne, Esther sente mais
vontade de colocar seus dedos entre as fibras daquele pedaço morto do que necessariamente se
alimentar dele, até mesmo tenta enfiar os dedos, se segura. Ao abortar sua compulsão e voltar
seu braço à mesa, percebe que o mesmo já não faz mais parte de seu corpo, se desconectou.
Figuras 4, 5 e 6 Sequência onde Esther percebe seu braço decepado de seu corpo.
Fonte: Marina de Van, 2002
A sequência continua com o gradativo desespero solitário de Esther, uma vez que
ninguém além dela percebe a situação. Poeticamente, pode-se ler esse fragmento como a
opressão do sentimento primal sentido pela personagem, uma vez que seu membro se
desconecta do resto do corpo justamente quando Esther se prontifica de inibir suas vontades,
relembrando as supracitadas colocações de Deren (1963) e Ferro (2023) à relação que a poesia
estabelece com o sentir dentro da narrativa. Ainda em desespero, Esther volta seu antebraço
decepado ao seu colo e começa a cutucá-lo com a faca que foi cedida junto ao prato, em busca
de se sentir mais uma vez. Com alívio, consegue sentir aquilo que é seu mais uma vez, tanto
seu antebraço quanto aquele seu sentimento primal extrapolado via a mutilação.
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Figura 7 Esther flagela seu braço.
Fonte: Marina de Van, 2002
Finalizando a cena, a jovem pede licença para ir ao banheiro e vai até a adega escura do
restaurante, longe de todos, entrando em contato consigo mesma mais uma vez, bebendo o
sangue do seu braço mutilado. A última meia hora do filme gira entorno da personagem
entrando em extremo contato consigo mesma, não apenas se mutilando como também se
canibalizando. Após sair do restaurante, Esther vai até o hotel ao outro lado da rua e passa parte
da noite lá, arrancando pequenas partes de seu corpo com a boca. Colateralmente, bebendo bons
goles do seu próprio sangue. Para fugir das investidas agressivas de seu companheiro, ao voltar
para casa a jovem simula um acidente em meio às árvores, uma vez que o seu corpo estava todo
machucado. Ao voltar para casa, volta a sua vida social, em busca de um novo apartamento
para dividir com Vincent.
Figura 8 Esther comendo parte de seu braço.
Fonte: Marina de Van, 2002
Longe de seus impulsos e de seu próprio corpo, Esther protagoniza quadros de ansiedade
e vertigem em locais de convívio social, a jovem não consegue mais deixar seu vício de lado.
Como último ato, compra uma série de produtos: uma câmera fotográfica, químicos, facas e
bebidas alcoólicas. Mais uma vez se tranca em um quarto de hotel e deixa-se levar pela
brutalidade.
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Figura 9 Esther se contorce em êxtase.
Fonte: Marina de Van, 2002
MAYA POR MARINA
Em suma, o filme de Marina de Van representa a monstruosidade da opressão,
extrapolando um contínuo e sutil desespero na tela. Doando seu próprio corpo, a diretora eleva
a monstruosidade feminina e os diversos aspectos da opressão com maestria, desde seus
trabalhos anteriores ao primeiro longa. Por exemplo, em seu curta de 1996, Bien sous tous
rapports, Marina busca a opressão sexual como argumento para a trama de 12 minutos. Ao
horror, a diretora propõe uma linha brutal e extremamente intimista, acenando à angústia de
Maya Deren ao escalar as pedras da praia e engatinhar na mesa de At Land (1944). Marina,
como Deren, se fez autora ao roteirizar, dirigir e performar durante grande parte de sua carreira,
talvez reconhecendo que seus filmes são como lembranças de antigos traumas.
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REFERÊNCIAS
DANS MA PEAU. Direção: Marina de Van. Produção: Laurence Farenc. Roteiro: Marina de
Van. FRANÇA: 2009. (93 min), son., color.
FERRO, Fernanda Ianoski. A realidade criativa nas obras da cineasta Maya Deren [livro
eletrônico] / Fernanda Ianoski Ferro. - 1. ed. - Araraquara, SP: Letraria, 2023.
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo hereje. 1. ed .Trad. Miguel S. Pereira. Lisboa: Assírio &
Alvim, 1982.
POETRY AND THE FILM: A Symposium. Willard Maas Film Culture, n. 29, p. 55-63,
1963. Disponível em: https://www.ubu.com/papers/poetry_film_symposium.html.
XAVIER, Ismail. O cinema moderno segundo Pasolini. Italianística, São Paulo, ano 1, n. 1,
p. 101 - 109, 1993.
ŽIŽEK, Slavoj. Lacrimae Rerum: Ensaios sobre o cinema moderno. 1. ed. São Paulo:
Boitempo. 2009.