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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 2 | mai-ago | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
e fatos e relações da nossa história permanecerão intocados. Esses heróis “oficiais” continuam
sendo Duque de Caxias, Domingos Jorge Velho, Pedro I, Pedro II, Princesa Isabel, Barão de
Cotegipe, Feijó, Barão do Rio Branco e, também, Deodoro da Fonseca e os demais participantes
do golpe militar republicano (p. 8).
Relacionada a essa historiografia é a perpetuação dos anti-heróis nas figuras de sempre:
Zumbi, os heróis da Revolta dos Alfaiates na Bahia de 1798 (Luís Gonzaga das Virgens, Lucas
Dantas, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira), assim como, também,
outros heróis populares como frei Caneca, Elesbão Dandará, Luís Sanim, Pacífico Licutã e os
demais líderes do movimento insurrecional de 1835 em Salvador, além de Borges da Fonseca,
Pedro Ivo, Padre Roma, Preto Cosme, Padre Miguelinho, Sóror Joana Angélica. Todos os
heróis sem monumentos, mas que representarem desarticulações e rupturas com as estruturas
de poder em diversos momentos da história do Brasil, que foram derrotados em momentos de
“rebelião, rebeldia ou projeto de mudança social” (p. 8).
Recorda-se Fanon (2008), em “Peles Negras, Máscaras Brancas” quando este estipula
a cultura que será tido no topo da hierarquia a estimulada pelos opressores, e a cultura que
tentará ser destruída e desculturada por essas classes, a cultura dos oprimidos.
Complementa-se o argumento em “O conceito de Pátria se torna uma ficção
manipulada pelos poderosos”, uma vez que, para defender a Pátria, se torna historicamente
necessário esmagar as “Repúblicas de resistência e rebeldia e manter” o conceito de Pátria
abstrato e inconcretizado na visão política das camadas populares, uma ficção, cujos
indicadores concretos são os benefícios concedidos aos privilegiados.
Para manter esse conceito marcial de pátria, as classes dominantes e os grupos militares,
como estamentos de sustentação política, criam “áreas proibidas da história” com limitações,
fronteiras e sanções para quem as transgredir (p. 9), como a Guerra do Paraguai, a atuação de
Caxias na mesma, o movimento “constitucionalista” em São Paulo, de 1932, a chamada
“intentona comunista” de 1935, afirmações de técnicos estrangeiros de que no Brasil não havia
petróleo, e outros (p. 9-10).
As tentativas históricas de se censurar e limitar a investigação historiográfica acerca dos
momentos de resistência ao poder hegemônico são ilustradas em “Exemplos do poder em luta
constante contra o saber e a História verídica”. O artigo se centraliza em três tentativas
reprimidas de se escrever sobre a Revolta da Chibata, de 1911; e no projeto História Nova do
Brasil, dos anos 1960, recolhido pela Ditadura Militar (p. 11).