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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 2 | mai-ago | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
A POÉTICA DO ANTI-HERÓI SUTIL:
UMA ANÁLISE DOS PERSONAGENS DE SUCCESSION
RESUMO
O artigo analisa alguns aspectos da poética dos personagens complexos e anti-heróis no contexto da
complexidade narrativa, elaborado por Jason Mittell (Mittell, 2015) em seu livro Complex TV: The
Poetics of Contemporary Television Storytelling. Uma das características da complexidade narrativa é
a exploração de temas e personagens complexos, permitindo uma gama maior de representação de
personagens desagradáveis ou mesmo anti-heroicos, figuras antes relegadas a papéis secundários na
narrativa seriada tradicional. O anti-herói, ao contrário do herói clássico, é o protagonista que apresenta
ambiguidade moral, podendo recorrer a comportamentos repreensíveis ou mesmo à criminalidade para
alcançar seus objetivos, sejam eles nobres (seguindo a lógica de que os fins justificam os meios) ou
egoístas. Nosso foco neste trabalho está no subtipo do anti-herói que chamamos de anti-herói sutil. Ao
contrário do anti-herói extremo (Liddy-Judge, 2013), caracterizado por um desvio moral pronunciado e
criminalidade, o anti-herói sutil representa mais um obstáculo na própria jornada e no seu círculo social
mais íntimo, tendo como exemplos os protagonistas de algumas comédias como Fleabag, It’s Always
Sunny in Philadelphia e Girls. Tomamos a série de dramédia Succession como estudo de caso e
investigamos o conjunto de estratégias narrativas que a série empreende na construção de seus
personagens complexos: o hibridismo de gênero, combinando os gêneros dramático e satírico; a adoção
do modo de representação observacional característico de alguns documentários e de sua paródia, o
mocumentário; e a estratégia da moralidade relativa observada por Mittell (2015). A combinação dessas
estratégias proporciona a Succession uma trama sofisticada populada de personagens complexos.
Palavras-chave: Complexidade narrativa. Poética. Personagens. Succession.
THE POETICS OF THE SUBTLE ANTI-HERO:
AN ANALYSIS OF SUCCESSION’S CHARACTERS
ABSTRACT
The article analyzes aspects of the poetics of complex characters and anti-heroes in the context of
narrative complexity, as elaborated by Jason Mittell (Mittell, 2015) in his book Complex TV: The Poetics
of Contemporary Television Storytelling. One of the characteristics of narrative complexity is the
exploration of complex themes and characters, allowing for a broader range of representation of
unpleasant or even antiheroic characters, figures previously relegated to secondary roles in traditional
serial narratives. The antihero, unlike the classic hero, is the protagonist who exhibits moral ambiguity,
potentially resorting to reprehensible behavior or even criminality to achieve their goals, whether those
goals are noble (following the logic that the ends justify the means) or selfish. Our focus in this paper is
the subtype of the anti-hero we call subtle anti-hero. Unlike the extreme anti-hero (Liddy-Judge, 2013),
characterized by a pronounced moral deviation and criminality, the subtle anti-hero represents more of
an obstacle in their own journey and in his most intimate social circle, with examples being the
protagonists of some comedies like Fleabag. It’s Always Sunny in Philadelphia and Girls. We take the
dramedy series Succession as a case study and investigate the set of narrative strategies that the series
employs in the construction of its complex characters: the hybridization of genres, combining dramatic
and satirical genres; the adoption of the observational mode of representation characteristic of some
documentaries and their parody, the mockumentary; and the strategy of relative morality observed by
Mittell (2015). The combination of these strategies provides Succession with a sophisticated plot
populated by complex characters.
Keywords: Narrative complexity. Poetics. Characters. Succession.