Nickolas Marques de Andrade
https://orcid.org/0000-0001-7857-5814
Doutorando e Mestre em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É professor no Colégio
Presbiteriano do Brás, ministrando aulas nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Suas pesquisas
envolvem o ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica, calcado em recursos tecnológicos e
na cultura digital.
PhD candidate and Master in Letters from Universidade Presbiteriana Mackenzie. He is a teacher at
Colégio Presbiteriano do Brás, teaching in the Final Years of Elementary School. His research
focuses on Portuguese Language teaching in Basic Education, grounded in technological resources
and digital culture.
Valéria Bussola Martins
https://orcid.org/0000-0002-1997-3772
Doutora e Mestra em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-doutorado em Letras
pela Universidade de São Paulo. É docente do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Letras
da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Suas pesquisas envolvem o ensino de Língua Portuguesa
e Literatura na Educação Básica, metodologias ativas, tecnologias educacionais e multiletramentos.
PhD and Master in Letters from Universidade Presbiteriana Mackenzie, with a postdoctoral degree
in Letters from Universidade de São Paulo. She is a faculty member of the Stricto Sensu Graduate
Program in Letters at Universidade Presbiteriana Mackenzie. Her research focuses on the teaching
of Portuguese Language and Literature in Basic Education, active methodologies, educational
technologies, and multiliteracies.
Este artigo passou por avaliação por pares cega e software anti-plágio.
LICENÇA ATRIBUIÇÃO NÃO COMERCIAL 4.0 INTERNACIONAL CREATIVE COMMONS CC BY-NC
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APRENDIZAGEM COM O OUTRO LADO DA TELA: EDUTUBERS NAS
AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA DOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
RESUMO
Este estudo aborda a influência dos edutubers no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de Língua
Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental. O problema de pesquisa é a viabilidade de integrar recursos
digitais, como os produzidos por edutubers, ao ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica. O objetivo geral é
avaliar como o conteúdo desses influenciadores digitais pode ser utilizado de forma eficaz em sala de aula para
melhorar o engajamento e a aprendizagem dos alunos. As hipóteses exploram a aceitação dos estudantes ao conteúdo
digital e a eficácia dessas ferramentas no aprendizado. A metodologia empregada inclui a aplicação de três
questionários a 30 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola privada em São Paulo. Os questionários
abordaram os hábitos de navegação na Internet, a avaliação das videoaulas assistidas e a eficácia do processo de
aprendizado. As respostas foram coletadas via Google Forms e divulgadas no Google Sala de Aula. A pesquisa
revelou que 85,2% dos educandos acessam a Internet principalmente por smartphones e que 92,6% dos discentes
expressaram interesse em acompanhar mais conteúdos produzidos pelo edutuber assistido. No terceiro questionário,
70,4% dos alunos relataram facilidade em resolver os exercícios propostos, embora 59,3% acreditassem que somente
a videoaula não seria suficiente para um aprendizado satisfatório. Todos os participantes concordaram que a mediação
do professor durante a exibição dos vídeos seria benéfica. Os principais resultados indicam que a integração de
conteúdos digitais na educação pode aumentar significativamente o engajamento e a eficácia do processo de ensino-
aprendizagem. No entanto, a mediação do professor é essencial para que esses recursos sejam utilizados de forma
eficiente. A pesquisa conclui que os edutubers podem ser aliados valiosos no ensino da Língua Portuguesa nos Anos
Finais do Ensino Fundamental, desde que o docente atue como mediador e facilitador do processo de aprendizagem.
Palavras-chave: Edutubers. Ensino de Língua Portuguesa. Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação.
Ensino Fundamental. Aprendizagem.
LEARNING WITH THE OTHER SIDE OF THE SCREEN: EDUTUBERS IN PORTUGUESE
LANGUAGE CLASSES FOR THE FINAL YEARS OF ELEMENTARY SCHOOL
ABSTRACT
This study addresses the influence of edutubers on the teaching-learning process of Portuguese Language content in
the Final Years of Elementary School. The research problem is the feasibility of integrating digital resources, such
as those produced by edutubers, into the teaching of Portuguese Language in Basic Education. The general objective
is to assess how the content of these digital influencers can be effectively used in the classroom to improve student
engagement and learning. The hypotheses explore students' acceptance of digital content and the effectiveness of
these tools in learning. The methodology employed includes the application of three questionnaires to 30 9th-grade
students from a private school in São Paulo. The questionnaires covered internet browsing habits, the evaluation of
video lessons watched, and the effectiveness of the learning process. Responses were collected via Google Forms
and shared on Google Classroom. The research revealed that 85.2% of students access the internet mainly through
smartphones and that 92.6% expressed interest in following more content produced by the edutuber. In the third
questionnaire, 70.4% of students reported ease in solving the proposed exercises, although 59.3% believed that video
lessons alone would not be sufficient for satisfactory learning. All participants agreed that teacher mediation during
the video presentation would be beneficial. The main results indicate that integrating digital content into education
can significantly increase engagement and the effectiveness of the teaching-learning process. However, teacher
mediation is essential for these resources to be used efficiently. The research concludes that edutubers can be valuable
allies in teaching Portuguese Language in the Final Years of Elementary School, provided that the teacher acts as a
mediator and facilitator of the learning process.
Keywords: Edutubers. Portuguese Language Teaching. Digital Information and Communication Technologies.
Elementary Education. Learning.
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INTRODUÇÃO
São recorrentes os relatos por parte dos educandos de que, muitas vezes, as aulas de
Língua Portuguesa na Educação Básica são enfadonhas. Nesse sentido, o educador que ministra
esse componente curricular deve refletir sobre sua prática docente, que tanto docentes quanto
discentes estão inseridos em um mundo que se apresenta mais multimidiático e tecnológico a
cada dia.
Os professores que são responsáveis por lecionar a disciplina Língua Portuguesa na
Educação Básica deveriam considerar que seus alunos passam muitas horas dos dias conectados
à Internet, fazendo uso de diversas linguagens, interagindo com outros indivíduos, consumindo
e produzindo informações. Ao compreender que esses jovens estão inseridos em uma realidade
que cotidianamente se torna mais digital, faz-se importante o desenvolvimento de propostas
didático-metodológicas que visam à utilização das Tecnologias Digitais da Informação e da
Comunicação (TDIC) no ambiente escolar que “[...] de um lado, desafia, mas, de outro,
possibilita uma amplitude da criatividade dele e do educando” (Guimarães; Freire, 2021 [1983],
p. 75).
Assim, ao compreender a importância de se elaborar essas atividades pedagógicas, o
mestre podedesenvolvê-las valendo-se das linguagens digitais, consoantes aos pressupostos
disponíveis nos documentos que regulamentam a Educação Básica brasileira, como as mídias
sociais, que se encontram largamente presentes no dia a dia de crianças e adolescentes.
Uma das mídias sociais mais acessadas pelos alunos na atualidade é o YouTube
plataforma multimidiática de armazenamento e compartilhamento de vídeos, que inclui a
possibilidade de os usuários se tornarem produtores de conteúdo digital, os chamados
youtubers. Além de proporcionar entretenimento, inúmeros youtubers criam conteúdo que
auxilia os educandos nos estudos. Esses youtubers, denominados edutubers, geralmente, são
educadores que migraram da modalidade presencial para a virtual como forma de se
aproximarem dos estudantes, deparando-se com a possibilidade de continuarem a ensinar para
um público maior e, assim, atingindo mais alunos do que em uma sala de aula convencional.
O presente artigo, cujo problema de pesquisa é como os edutubers podem influenciar
no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de Língua Portuguesa dos Anos Finais do
Ensino Fundamental, propõe analisar o impacto que os esses influenciadores digitais podem
proporcionar no ensino de objetos de conhecimento da língua materna, com o intuito de, junto
com o professor mediador desse processo, avaliar a contribuição para o ensino de conteúdo do
referido componente curricular.
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O referencial teórico que alicerça este estudo pauta-se nas recomendações da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), documento oficial que regulamenta a Educação Básica
brasileira (BRASIL, 2017) e nas teorias advindas de Andrade (2022), Antunes (2003, 2007),
Burgess e Green (2009), Freire (2011 [1996], 2014 [2000], 2021 [1979]), Freire e Guimarães
(2021 [1983]), Fischberg (2020), Gomes (2016), Martins (2014a, 2014b), Moran (2007),
Possenti (1996), Rojo e Moura (2012), Ruiz (2011) e Siegel (2016).
O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Na vivência de sua prática pedagógica, o docente responsável pelo componente
curricular Língua Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental precisa desenvolver
conscientes propostas didático-metodológicas que possibilitem potencializar suas aulas para
que não caiam na monotonia.
Muitas vezes, devido ao fato de tal disciplina escolar apresentar uma carga horária entre
cinco e seis aulas por semana, o professor que a ministra é aquele que mais teria contato com
seus alunos. Por isso, não é incomum se deparar com relatos como “durante a semana, vejo
mais você do que meus pais” ou “passo mais tempo com você do que com alguns familiares”.
Embora haja mestres que julgam ser absurda a proximidade entre professores e alunos, Freire
(2011 [1996], p. 66) ampara quem pensa diferente, indagando: “Como ser educador, se não
desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos com quem me comprometo e
ao próprio processo formador de que sou parte?”.
Ao lidar com adolescentes entre 11 e 14 anos, que estão matriculados do ano ao
ano do Ensino Fundamental, o educador sabe que nessa faixa etária as descobertas, a explosão
hormonal e a instabilidade emocional manifestam-se nos jovens. Contudo, é recorrente alguns
docentes se estressarem, se irritarem e, na medida em que passa o tempo, alegarem não saberem
lidar com os indivíduos que estão nessa fase de suas vidas. É a relação professor-aluno que
pode florescer uma frutífera parceria no processo de ensino-aprendizagem, que estudantes
costumam se identificar com professores que demonstram ser afetivos, tolerantes, criativos,
empáticos, competentes, motivadores, bons ouvintes e que aprendem com os alunos.
Com sua larga experiência no ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica, Martins
(2014a, p. 23) corrobora o exposto, ao afirmar que “[...] é no professor que o aluno busca o seu
ponto de referência existencial para o desenvolvimento de sua personalidade e da postura que
julga ser capaz de levá-lo a fazer o percurso desejado para sua vida”.
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Esse docente deve buscar realizar constantes reflexões em torno de sua prática para
reavaliar se suas aulas e seus materiais pedagógicos estão de acordo com o que orientam os
documentos norteadores da Educação Básica, além de estar disposto a elaborar propostas
didático-metodológicas que sejam significativas e que contribuam para a formação dos
estudantes que atualmente estão nos bancos escolares.
Relevantes se mostram as palavras de Freire (2021 [1979], p. 20), ao afiançar que:
[...] a primeira condição para que um ser pudesse exercer um ato
comprometido era a sua capacidade de atuar e refletir. É exatamente esta
capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com
finalidades propostas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de
refletir, que o faz um ser da práxis.
Não são incomuns relatos de que as aulas de Português na Educação Básica se pautem,
majoritariamente, no ensino teórico da gramática normativa da língua. Inclusive, diversos são
os materiais didáticos que privilegiam o ensino da gramática, atribuindo maior relevância a esse
objeto de ensino, ao longo de muitas e muitas páginas, em detrimento de outros que poderiam
ser explorados no ambiente escolar. É válida a reflexão proposta por Antunes (2007, p. 73), ao
expor que, geralmente, “[...] os livros didáticos não se arriscam muito: quando se trata de
gramática, propõem exercícios fora dessas relativizações contextuais; quase nunca exploram
uma questão gramatical que admite variação”.
De igual modo, não é arriscado afirmar que essas aulas se apresentam distantes do dia a
dia da maior parte dos estudantes e as estratégias de ensino de língua materna que ainda vigoram
se mostram um tanto ineficientes e inadequadas. Assim, elas deveriam ser abolidas? Não. Na
verdade, elas devem ser bem planejadas para que sua execução seja eficiente para que os
estudantes possam encontrar sentido entre o que aprendem e o que vivenciam. Antunes (2007,
p. 80, grifos da autora) problematiza essa questão ao expor: “Mas quem disse que não é para
ensinar gramática? Quem disse que não é para usar regras? O problema é muito mais amplo:
está em saber o que é gramática, em que consistem suas regras; como se deve ensiná-las.”
Em função dessa situação, são frequentes os relatos por parte dos alunos de que o estudo
da Língua Portuguesa é difícil e, constantemente, eles acabam por questionar o porquê
aprendem o que aprendem nessas aulas e em qual situação utilizarão esse conhecimento em
suas vidas, pois não conseguem visualizar uma aplicabilidade no estudo de variadas
nomenclaturas e classificações gramaticais. Essa atitude, por parte dos estudantes, “[...]
manifesta-se na confessada (ou velada) aversão às aulas de português” (Antunes, 2003, p. 20).
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Além disso, por ser a língua materna da maioria dos alunos que frequentam as
instituições de Educação Básica no Brasil, infere-se que a priori eles já possuem determinado
conhecimento sobre ela por usarem-na diariamente em situações comunicativas, sendo
pertinente considerar que “[...] no dia em que as escolas se dessem conta de que estão ensinando
aos alunos o que eles já sabem, e que é em grande parte por isso que falta tempo para ensinar o
que eles não sabem, poderia ocorrer uma verdadeira revolução” (Possenti, 1996, p. 32-3).
Entretanto, não há de se culpabilizar materiais didáticos, docentes ou escolas. É preciso
refletir sobre quem realmente determina o que deve ou não ser ensinado nas aulas de Língua
Portuguesa, pois existem materiais didáticos bem confeccionados, professores bem-
intencionados e engajados nas mudanças das estratégias de ensino de Português e escolas que
acompanham e chancelam essas mudanças, seguindo os mais recentes pressupostos teóricos.
propostas didático-metodológicas que promovem um trabalho significativo em
relação ao processo de leitura e de interpretação de textos em versões impressas e digitais, bem
como existem eficientes estratégias que propõem um trabalho multimidiático da avaliação da
leitura literária em ambiente escolar, além de ricas práticas educativas tecnológicas quanto a
um real trabalho com a produção de textos nas aulas de Língua Portuguesa.
O educador comprometido com seu papel de ensinar e que ministra aulas de Língua
Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental compreende que seu alunado está imerso
em um mundo diferente daquele em que esteve em seu tempo de criança ou de adolescente. Por
isso, faz-se capital buscar meios para enfrentar os desafios que se afloram, a fim de que o
processo de ensino-aprendizagem seja eficiente tanto para docentes quanto para discentes.
Ao considerar que educar com as mídias tem sido um dos principais assuntos no rol de
discussão sobre práticas pedagógicas na contemporaneidade, não se pode deixar de lado as
TDIC, uma vez que elas atribuem novos sentidos àquilo que se vivencia no dia a dia, surgindo
um universo repleto de possibilidades para a comunicação e para o acesso a informações, com
a finalidade de reconstruir significados (Ruiz, 2011).
A possibilidade de criação de textos, vídeos, músicas, ferramentas, designs
não unidirecionais, controlados e autorais, mas colaborativos e interativos
dilui (e no limite fratura e transgride) a própria ideia de propriedade das ideias:
posso passar a me apropriar do que é visto como um “fratrimônio” da
humanidade e não mais como um “patrimônio” (Rojo; Moura, 2012, p. 25).
Educadores sérios, conscientes de seu papel e amorosos com os alunos precisam ter em
mente que é indispensável desenvolver propostas de trabalho durante as aulas de Língua
Portuguesa que visam a uma significativa utilização das TDIC em sala de aula, seguindo os
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pressupostos dispostos nos documentos oficiais que regem a Educação Básica brasileira. Um
destes que serve de suporte para os educadores é a BNCC que, homologada em 2017, trata-se
de um “[...] documento completo e contemporâneo, que corresponde às demandas do estudante
desta época, preparando-o para o futuro” (Brasil, 2017, p. 05).
É mediante a leitura da BNCC que se compreende que a área de Linguagens - composta
pelos componentes curriculares Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa -,
por meio de práticas sociais, é aquela em que os humanos interagem entre si, com os outros e
relacionam conhecimentos, atitudes, valores culturais, morais e éticos (Brasil, 2017).
Com base nisso, a área de Linguagens pode se apropriar das ideias de mídias sociais,
visando a trabalhá-las em sala de aula com o intuito de potencializar sua importância, expondo
aos alunos que aquilo que está em sua realidade pode ultrapassar os muros da escola e ser
utilizado no processo de ensino-aprendizagem. São as aulas de Língua Portuguesa, portanto,
que se apresentam como uma boa, senão a melhor, opção para vincular esses pensares. O
professor que ministra esse componente curricular deve ser um sujeito que, atento ao mundo
em que está inserido, busca, junto a seu aluno:
[...] compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação
de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais
(incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens
e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos
autorais e coletivos (Brasil, 2017, p. 65).
Fica evidente que novas propostas didático-metodológicas que proporcionem um
processo de ensino-aprendizagem eficiente durante o ano letivo e que integrem os elementos
multimidiáticos e tecnológicos que estão no dia a dia dos estudantes se fazem basilares nos
Anos Finais do Ensino Fundamental. É calcado nessas ideias que o presente artigo buscou
envolver, nas aulas de Língua Portuguesa desse segmento, elementos da cultura digital que
fazem parte do cotidiano dos alunos.
A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DA CULTURA DIGITAL NAS AULAS DA
EDUCAÇÃO BÁSICA
Sabe-se que os elementos tecnológicos surgem com o intuito de facilitar alguma
atividade humana, promovendo melhor qualidade de vida aos indivíduos. Com o advento dos
computadores não foi diferente. Assim que os computadores passaram a ser mais acessíveis,
principalmente no âmbito econômico, tornaram-se um item praticamente indispensável na vida
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de todos. Adquirir um computador pessoal significava viabilizar a realização de múltiplas
tarefas e ampliar as possibilidades de interação social, por meio da Internet.
Não é exagero pensar que a World Wide Web se tornou vital na modernidade, já que sua
utilização “[...] possibilita a combinação das linguagens verbal, sonora e imagética; propicia
maior rapidez na busca por informações e oferece interatividade em tempo real com pessoas de
todo o mundo” (Martins, 2014b, p. 96). Desse modo, muitos afirmam já não se recordarem da
época em que não utilizam as benesses proporcionadas pela Internet.
Ora, se muitos indivíduos, nascidos principalmente nas últimas décadas do século
passado, têm esse pensamento, o que esperar de crianças e adolescentes que, em sua maioria,
nasceram em um mundo em que a Web é uma realidade diária? Diante disso, é imprescindível
que a escola compreenda que já está mais do que na hora de se investir no desenvolvimento de
atividades em que os elementos da cultura digital figurem, para que o processo de ensino-
aprendizagem dos estudantes seja verdadeiramente correspondente ao momento em que vivem.
Andrade (2022, p. 89) ratifica que é crucial:
[...] que o educador progressista, que esteja efetivamente comprometido com
o processo de formação integral de jovens que estão na Educação Básica,
visando a proporcionar-lhes uma aprendizagem significativa e condizente
com o contexto em que vivem, esteja interessado em acompanhar as
transformações digitais das últimas décadas, compreendendo a importância do
uso pedagógico de ferramentas tecnológicas em sua prática docente.
Embora seja um fato que a Internet está presente na vida das pessoas, sobretudo na dos
alunos que estão nos bancos escolares do terceiro milênio, é fundamental considerar que:
O computador e a Internet não são recursos milagrosos. Eles não são a solução
para todos os atuais problemas da educação que ainda se mostra
profundamente tradicional e, até certo ponto, cansativa e maçante. Sem
objetivos claros para sua utilização, ambos acabam atuando como outras
ferramentas que parecem maquiar o contexto educacional para que as
instituições de ensino se promovam como modernas. [...] Se a aula é
extremamente enfadonha e desgastante, o computador e a Internet serão, sim,
mais motivadores. Contudo, para que a máquina seja empregada da melhor
forma possível em sala de aula, faz-se necessário, antes de mais nada, que o
docente se prepare, organize-se e justifique o seu uso ao longo de qualquer
atividade (Martins, 2014b, p. 98).
É evidente que o uso da Internet em atividades escolares não reverterá os problemas da
Educação Básica brasileira. Mas, desconsiderá-la do processo de ensino-aprendizagem de
crianças e adolescentes do século XXI não se mostra uma escolha muito cognoscível.
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Novas propostas pedagógicas se fazem necessárias, indispensáveis e urgentes
à pós-modernidade tocada a cada instante pelos avanços tecnológicos. Na era
da computação não podemos continuar parados, fixados no discurso
verbalista, sonoro, que faz o perfil do objeto para que seja aprendido pelo
aluno sem que tenha sido por ele apreendido (Freire, 2014 [2000], p. 129-130,
grifos do autor).
O ideal é que sejam elaboradas propostas didático-metodológicas que envolvam os
elementos da cultura digital, principalmente aqueles que os jovens apresentam maior
familiaridade e destreza, como é o caso das mídias sociais, que possibilitam que as pessoas, de
forma geral, conectem-se e interajam com outras de vários lugares do mundo, encurtando a
distância e o tempo, além de compartilharem e produzirem conteúdos multimidiáticos em
tempo real e de diferentes formatos.
Na atualidade, mostra-se praticamente impossível passar o dia sem curtir e/ou
compartilhar posts, sem comentar nas postagens de conhecidos (e, às vezes,
até de desconhecidos), sem se manter informado dos acontecimentos em
tempo real, sem criar textos que combinam linguagens verbal, sonora e
imagética a serem publicados em perfis pessoais. A experiência que as mídias
sociais proporcionam aos indivíduos que as acessam por meio de qualquer
dispositivo móvel transforma-os em editores, roteiristas, cinegrafistas,
fotógrafos, ou seja, produtores digitais de sua própria realidade, de forma cada
vez mais intuitiva, não sendo exclusividade de pessoas mais jovens (Andrade,
2022, p. 94).
O caminho para o uso eficiente das dias sociais na escola inicia pelo planejamento. É
preciso que, antes de mais nada, o professor medite sobre a pluralidade em torno da utilização
das mídias sociais nas aulas do componente curricular que ele ministra. Assim, ele seguramente
concluirá que a possibilidade de crianças e adolescentes aprenderem por meio de dispositivos
e ambientes virtuais, desde que haja a mediação de um educador que, com seu conhecimento
pedagógico, reitere que uma troca significativa de experiências e de ideias contribui
positivamente para potencializar o conhecimento.
Torna-se fundamental ainda que o professor tenha em mente que as mídias:
[...] desempenham, indiretamente, um papel educacional relevante. Passam-
nos continuamente informações, interpretadas; mostram-nos modelos de
comportamento, ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e
privilegiam alguns valores em detrimento de outros (Moran, 2007, p. 162).
É por isso que elaborar projetos que contemplem a utilização de ferramentas da cultura
digital torna-se um valioso acerto para docentes que se preocupam com a aprendizagem de seus
alunos, uma vez que esse trabalho pode ser muito significativo e prazeroso ao se compreender
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que as mídias sociais, por exemplo, podem ser importantes aliadas no processo de ensino-
aprendizado.
YOUTUBE, YOUTUBERS E EDUTUBERS: DA INTERNET À SALA DE AULA
Uma das mídias sociais mais acessadas na atualidade é o YouTube. O relatório Digital
2024, elaborado pela agência de marketing We are Social e pela Meltwater, empresa de
soluções de inteligência de mídia, mostrou que 99,1% dos brasileiros possuem algum tipo de
aparelho celular, 86,6% são usuários de Internet e, entre esses usuários, 97,5% têm alguma
mídia social.
A Internet está acessível em 86,6% do território nacional, sendo o Brasil o segundo país
que mais faz uso da Web no mundo todo. O brasileiro, em média, passa 9h13min na Internet,
perdendo apenas para a África do Sul, cuja população fica, em média, 9h24min. A média
mundial de permanência na Internet é de 6h40min. 6 horas é um tempo considerável ao se
pensar que o dia tem 24 horas, porém, o povo brasileiro passa mais do que 1/3 da sua rotina
diária na Internet. Esses dados evidenciam a importância de estudos que se debruçam sobre esse
hábito digital.
Outro dado revelador é que, dessas 9h13min usadas na Internet por dia, 3h37min são
dedicadas às mídias sociais WhatsApp (1º lugar), Instagram (2º lugar), Facebook (3º lugar) e
TikTok (4º lugar). A média mundial de permanência em mídias sociais é de 2h23min.
Em relação aos websites mais visitados em 2023, o campeão de visitas foi o Google. O
segundo lugar ficou com o YouTube, seguido pelo Facebook (3º lugar), Globo.com (4º lugar)
e Instagram (5º lugar). Os dados evidenciam, portanto, que a presença da Internet e das mídias
sociais no Brasil é intensa.
Em 2005, Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, três ex-funcionários de um site de
comércio eletrônico estadunidense, criaram o domínio da Internet www.youtube.com, com o
intuito de tentar “[...] eliminar as barreiras técnicas para maior compartilhamento de vídeos na
internet” (Burgess; Green, 2009, p. 17).
O primeiro vídeo postado na plataforma digital, chamado Me at the zoo (do inglês, Eu
no zoológico), foi publicado em 24 de abril de 2005, por Jawed Karim, um dos cofundadores
do site, no canal que leva seu nome. O vídeo, de 19 segundos, basicamente, apresenta Karim
comentando que estava na frente de elefantes em um zoológico. Até o dia 22 de janeiro de 2024,
pouco mais de 18 anos de sua publicação, o vídeo contava com quase 305 milhões de
visualizações.
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De forma geral, o YouTube apresentou-se ao mundo como uma plataforma on-line de
armazenamento e de compartilhamento de vídeos, incluindo a possibilidade de os usuários se
tornarem produtores de conteúdo digital. Do surgimento à contemporaneidade, a plataforma se
tornou uma mídia social de grande alcance e sucesso, devido basicamente à simplicidade de
seu uso. Assim, muitos indivíduos usam-no de um modo bem similar: assistem a vídeos que
são encontrados aleatoriamente e/ou clicam em links enviados por conhecidos que são
repassados a outras pessoas (Burgess; Green, 2009).
Além disso, aqueles que possuem uma conta Google possuem, automaticamente, um
canal, proporcionando o upload de vídeos, bem como a inscrição em outros canais, o
compartilhamento, as funções curtir e descurtir em vídeos de outros usuários da plataforma
online, que também pode ser acessada nos smartphones, por meio dos aplicativos baixados nas
lojas online de cada aparelho com sistema operacional Android ou iOS.
Se o usuário decidir produzir conteúdos que serão postados em seu canal personalizado,
ele se torna um youtuber. Muitos desses youtubers, ao longo do tempo, passaram a contar com
apoio de marketing e de patrocínio de empresas, levando a monetização de seus conteúdos,
devido à abrangência e à popularidade alcançada por seus vídeos publicados na Internet. Isso
leva muitos jovens a se interessarem por esse universo, na expectativa de se tornarem grandes
produtores de conteúdo, pois, assim, contarão com patrocinadores e apoiadores em seus vídeos.
Contudo, além de meramente proporcionar entretenimento, muitos são os produtores
que criam conteúdo visando a auxiliar estudantes em seus estudos. Esses são denominados
edutubers. A matéria jornalística publicada na versão online do jornal O Globo, de 25 de março
de 2020, revela que educadores “[...] de sucesso em sala de aula estão se tornando
influenciadores digitais” (Fischberg, 2020). A reportagem também evidencia que:
A cada dia surge um novo edutuber, afirma Clarissa Orberg, gerente de
parcerias estratégicas do YouTube Brasil. um programa de suporte aos
canais: a partir de mil inscritos, o educador já pode monetizar os vídeos; com
10 mil, ele tem acesso às instalações da plataforma para gravar vídeos; com
100 mil, é elegível a ter um gerente de atendimento próprio no YouTube
(Fischberg, 2020).
É preciso salientar que, neste estudo, são considerados edutubers aqueles que são
professores que migraram da modalidade presencial para a virtual, com o intuito de se
aproximar dos estudantes. Ademais, vários são os fatores que levam educadores a se tornarem
edutubers. A espontaneidade e a criatividade para poder explicar conteúdos de componentes
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curriculares tidos, muitas vezes, como difíceis, são dois fatores que podem levar ao surgimento
no YouTube de mais um canal destinado a conteúdos educativos.
Cabe destacar que outros edutubers surgiram, porque foram desligados das instituições
de ensino que atuavam, sobretudo pela crise econômica que assolou o país, a partir de meados
de 2015, e que se agravou pelas políticas de restrição provocadas pela pandemia da Covid-19,
a partir de 2020. Ademais, não se pode desconsiderar que alguns se tornaram edutubers por
buscarem novas oportunidades e experiências em seu fazer docente, abandonando as escolas
que trabalhavam. Ao ingressarem no universo do YouTube, encontraram uma real possibilidade
de continuarem a ensinar para um público maior, atingindo mais alunos do que em uma sala de
aula convencional.
Em função de tudo o que foi apresentado, este trabalho pretende analisar como os
conteúdos produzidos por esses edutubers podem ser utilizados no processo de ensino-
aprendizagem de Língua Portuguesa na Educação Básica, com o intuito de, junto com o
professor mediador desse projeto, potencializar o ensino dos conteúdos que envolvem a língua
materna, aliando os elementos tecnológicos e midiáticos ao ambiente escolar.
APRENDIZAGEM COM O OUTRO LADO DA TELA: RESULTADOS E ANÁLISES
O desenvolvimento e a aplicação do projeto em sala de aula consistiram em etapas,
visando a um processo de ensino-aprendizagem que fosse eficiente tanto para o docente quanto
para os discentes. Assim, foram enviados questionários online, elaborados na plataforma
Google Forms, a estudantes do ano do Ensino Fundamental, de uma instituição de ensino
privada, localizada na zona leste da capital paulista, em uma perspectiva de 30 alunos, durante
todas as etapas, com o intuito de verificar se o projeto cumpriu o propósito da pesquisa.
No que se refere a este estudo, a aplicação dos questionários buscou analisar o impacto
da utilização do conteúdo digital produzido pelos edutubers nas aulas de Língua Portuguesa.
Para a execução deste projeto, foram realizados três questionários: um sobre os hábitos
de navegação na Internet dos alunos; outro sobre a videoaula e o edutuber assistidos e um último
sobre a avaliação do processo de aprendizado. Em cada levantamento, utilizou-se a plataforma
Google Forms, devido à praticidade para que o público-alvo da pesquisa pudesse acessar e
responder aos formulários. Os formulários foram divulgados na plataforma Google Sala de
Aula no período de 31 de março de 2020 a 20 de abril de 2020. Ao fim do prazo, contabilizaram-
se 27 respostas. Cabe salientar que o prazo para as respostas foi estendido, atendendo às
diretrizes divulgadas pelo Governo do Estado de São Paulo, durante os meses de março e abril
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de 2020, por conta do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 que levou à
restrição das aulas presenciais, tendo de serem ministradas síncrona ou assincronamente, por
meio de softwares de videoconferência.
Em relação às atividades que foram desenvolvidas em sala de aula remota, cujo
programa de videoconferência permitia que professor e alunos estivessem conectados ao vivo
para que a aula ocorresse, foram seguidas as etapas:
- Apresentação do projeto aos alunos;
- Aplicação de um questionário quanto aos hábitos discentes de navegação da Internet;
- Utilização de duas videoaulas, disponíveis na mídia social YouTube, produzida por um
mesmo edutuber;
- Aplicação de questionário aos alunos sobre as videoaulas assistidas;
- Aula do docente que ministra o componente curricular Língua Portuguesa, sobre o mesmo
conteúdo apresentado nas videoaulas assistidas;
- Resolução de exercícios dispostos no material didático dos alunos;
- Aplicação de questionário aos alunos sobre o processo do qual eles participaram.
No primeiro questionário aplicado aos alunos, a pergunta inicial girava em torno do
principal meio de acesso à Internet. Para 85,2% dos indivíduos, o acesso se dava por meio de
smartphone. 14,8% responderam que utilizavam um computador pessoal. A opção tablet não
foi escolhida.
A pergunta sequencial investigava a conexão de Internet dos respondedores. A opção
de somente usar uma rede sem fio, por exemplo, Wi-Fi, foi escolhida por 40,7%. A opção de
unicamente utilizar a Internet móvel, por exemplo, 3G ou 4G, não foi escolhida e 59,3%
responderam que optavam por ambas as conexões.
Foi objetivo do estudo inteirar-se de quantas horas, em média, por dia, os indivíduos
navegam na Internet. 74,1% responderam passar mais de três horas, sendo que os números
quanto a navegar na Internet por uma hora (7,4%) e a navegar exatas três horas (18,5%)
pareceram pífios se comparados ao primeiro item. A opção apenas uma hora não foi escolhida.
Ao serem questionados sobre a finalidade a qual acessavam à Internet, destacou-se que
74,1% dos respondentes utilizavam-na para atividades de lazer e entretenimento, como assistir
a filmes e/ou ouvir músicas. 25,9% comunicavam-se com outras pessoas. A opção encomendas
ou compras online não foi escolhida.
No tocante para que os respondedores acessavam a Internet, unanimemente, 100% deles
responderam que a acessavam para estudar. Perguntou-se também no que os indivíduos
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costumam investir seu tempo estudando. 48,1% utilizavam as mídias sociais (Facebook,
YouTube) para estudar. 33,3% responderam acessar sites recomendados pelos professores e
18,5% investem seu tempo procurando em sites de busca. Destaca-se que ninguém escolheu a
opção em aplicativos indicados pelos professores.
Questionou-se sobre o acesso à Internet para fazer trabalhos e/ou pesquisas. Todos os
indivíduos (100%) responderam que a utilizam para tal finalidade.
Unanimemente, o índice de 100% foi atingido quando se perguntou aos indivíduos se
eles acessavam a Internet para assistir a videoaulas. Ao serem questionados se conheciam ou
acompanhavam algum canal de um edutuber, 81,5% dos participantes responderam
positivamente, ao passo que 18,5% responderam negativamente.
A última pergunta do primeiro questionário abordou a opinião dos participantes se os
conteúdos produzidos no YouTube poderiam ser aproveitados no ambiente escolar. 92,6%
responderam que sim. 7,4% escolheram a opção não.
No segundo questionário aplicado, a pergunta inicial referia-se à percepção dos
respondentes quanto a acreditarem que o edutuber havia transmitido o conhecimento, por meio
da videoaula, de forma clara e objetiva. 100%, de forma unânime, responderam positivamente.
Em seguida, lançou-se o questionamento sobre ter sido suficiente a maneira como o
edutuber explicou o conteúdo para o processo de aprendizado do participante da pesquisa. A
opção sim foi escolhida por 77,8%. A opção não foi selecionada por 22,2% dos indivíduos.
Também se investigou se os respondentes consideravam satisfatório o modo como o
edutuber se portou durante a videoaula. 92,6% responderam positivamente, ao passo que 7,4%
responderam negativamente.
Ao serem questionados se ficaram confusos com algum exemplo ou com alguma
explicação dados pelo edutuber, destaca-se que 66,7% responderam não e que 33,3%
responderam sim.
Na sequência, investigou-se que 88,9% dos respondentes não acreditavam que apenas o
conteúdo produzido pelo edutuber bastaria para que aprendessem o conteúdo abordado. Por
outro lado, 11,1% acreditaram que a videoaula era o suficiente para aprenderem o conteúdo.
Depois, ao serem questionados se indicariam a videoaula assistida, 92,6% responderam
positivamente e 7,4% responderam negativamente.
Na última questão do segundo questionário, 92,6% responderam que acompanhariam
mais conteúdos produzidos pelo edutuber, cuja videoaula haviam assistido. 7,4% afirmaram
que não acompanhariam.
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No terceiro e último questionário aplicado, a pergunta inicial investigava se eles
conseguiram resolver os exercícios propostos com facilidade e 70,4% dos indivíduos
responderam sim. 29,6% responderam não.
59,3% dos participantes não acreditavam que apenas a videoaula assistida bastaria para
resolver os exercícios de forma satisfatória; 40,7% afirmaram o oposto.
Em seguida, de forma unânime, 100% responderam acreditar que rever o conteúdo
produzido pelo edutuber, durante a resolução dos exercícios ou como uma revisão dos
conteúdos, ajudaria na rotina de estudos.
Se houvesse a mediação do professor de Língua Portuguesa, durante a exibição do
conteúdo produzido pelo edutuber, todos os indivíduos (100%) acreditaram que esse fato seria
mais enriquecedor para sua aprendizagem. Além disso, 70,4% dos respondentes não
acreditavam que apenas a videoaula do edutuber bastaria para que aprendessem o conteúdo
abordado. Por outro lado, 29,6% sinalizaram o contrário.
Depois, ao serem questionados se a utilização dos conteúdos produzidos pelos edutubers
havia sido positiva para o processo de aprendizagem do objeto de conhecimento que estava
sendo estudado, unanimemente, 100% responderam positivamente.
Quanto à avaliação da articulação entre os materiais elaborados pelo edutuber e a figura
do professor que ministrava o componente curricular Língua Portuguesa em sala de aula, 59,3%
avaliaram como muito satisfatória, 40,7% avaliaram como satisfatória e nenhum respondente
optou pela opção insatisfatória.
A última questão do terceiro questionário se tratava da percepção dos estudantes quanto
ao fato de acreditarem que vincular conteúdos disponíveis no YouTube aumentaria o interesse
em aprender os objetos de conhecimento da língua materna: 88,9% responderam sim. 11,1%
afirmaram que não.
Após a análise de todos os resultados obtidos na pesquisa, chegou-se à conclusão de
que, para os alunos, o acesso à Internet e a utilização das mídias sociais são naturais, intuitivos
e instantâneos, dado que os participantes integravam a Geração Z. Dessa forma, os
adolescentes, em sua maioria, buscavam utilizar a Internet e as mídias sociais como forma de
estudo, uma vez que, por estarem expostos a uma quantidade exorbitante de informação durante
todo o dia, eles conseguiam filtrá-las, utilizá-las para seu próprio bem, administrando, assim,
adequadamente o tempo de lazer e o de estudo.
Os usos das redes sociais são significativos para seus participantes, que podem
“se incluir” nas comunidades que lhes interessar, pelo tempo que lhes convier
e participar da maneira que quiserem ou que lhes for possível. São novas
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formas de aprender e de ser. Muitas vezes, os objetivos para participar das
redes são exclusivamente individualistas, mas podem também ser altruístas,
visando ao bem de todos ou de determinadas comunidades (Gomes; 2016, p.
83).
Cabe evidenciar que esse estudo foi aplicado em um momento delicado de saúde
pública, no início de 2020, em que todos ainda estavam preocupados com o avanço da doença
causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 e o que aconteceria no momento posterior à pandemia.
Não havia, naquele momento, uma data definida para que as aulas retornassem à modalidade
presencial e, à época, as pessoas tentaram, como puderam, equilibrar seus deveres realizados
remotamente em suas residências e seus momentos de descanso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho, cujo problema de pesquisa era como os edutubers podem influenciar no
processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos de Língua Portuguesa dos Anos Finais do
Ensino Fundamental, apresentou dados que se mostraram robustos para afirmar que o material
produzido pelos edutubers podem ser aliados à aprendizagem dos estudantes em relação aos
objetos de conhecimento da língua materna que são abordados em sala de aula.
Entretanto, para isso, o docente que ministra a disciplina Língua Portuguesa precisa
refletir sobre sua maneira de ensinar, reconhecer-se como mediador do processo de ensino-
aprendizado e não como o único detentor do saber. Responsável, paciente e ético, esse
educador, além disso:
[...] consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do
seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”.
Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e
vindas do seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas
incertezas (Freire, 2011 [1996], p. 83-4).
É crucial que os professores se lembrem sempre de que também foram adolescentes e
de que passaram pelas mesmas angústias que afligem os jovens atualmente. Por isso, o mestre,
preocupado com a formação de seus estudantes, atenderá a orientação de Siegel (2016, p. 15):
“[...] ande com adolescentes e irá escutar frequentemente risadas e ataques de histeria. Às vezes,
irá ouvir muito choro. Tal intensidade emocional certamente pode trazer alegria e provocar
lágrimas”.
Somente aquele que consegue enxergar que os educandos são muito mais do que
máquinas que se depositam conhecimentos que, muitas vezes, não contribuem para uma
formação adequada e eficiente para a atualidade, esquece-se facilmente de que “[...] somos
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alunos por toda a vida. Compreender onde a outra pessoa está em seu desenvolvimento ajuda a
todos a navegar bem e a continuar a crescer” (Siegel, 2016, p. 21).
Além disso, o educador que leciona o componente curricular Língua Portuguesa nos
Anos Finais do Ensino Fundamental necessita ser um sujeito aberto às novidades. Em outras
palavras, ele precisa engajar-se com as mudanças que surgem cotidianamente, principalmente
aquelas que envolvem elementos da cultura digital. Martins (2014a, p. 42) complementa que:
[...] professores que se consideram o centro do processo de ensino-
aprendizagem e que apenas julgam o aluno como um receptor de saberes que
devem ser acumulados ao longo do ano letivo. Para eles, a repetição é a mãe
da aprendizagem e a memorização, a solução para tudo.
Não há como apoiar um indivíduo que, na terceira década do século XXI, desconsidera
de suas aulas as ferramentas multimidiáticas e tecnológicas disponíveis e que nega, assim, o
recomendado nos textos legais educacionais, como a BNCC.
Cabe salientar que os temas abordados pelos jovens na atualidade não são,
necessariamente, inovadores demais. A Internet refere-se à segunda metade
do século XX, o que leva ao seguinte questionamento: o que impossibilita os
professores de adentrarem ao universo digital de forma a contribuir para a
plena formação de seus aprendizes? (Andrade, 2022, p. 90).
É por isso que se insiste que os professores que ministram o componente curricular
Língua Portuguesa na Educação Básica brasileira devem constantemente refletir sobre as
estratégias adotadas no ensino de língua materna, a fim de que compreendam que o mundo em
que estão inseridos passou por grandes mudanças ao longo dos anos e de que seus alunos são
indivíduos que estão imersos em uma realidade em que as TDIC se fazem presentes em quase
todos os aspectos da vida. Dessa forma, vincular os elementos que estão na vida dos educandos
ao processo de ensino-aprendizagem se torna emergencial, em função do mundo em que se vive
atualmente, e necessário para promover um ambiente de melhor potencialização do
conhecimento adquirido nas escolas.
inúmeros desafios e muitas questões que a crescente organização das
pessoas em redes sociais na internet traz para a escola. Talvez isso ocorra
porque a pedagogia anda furtivamente no rastro da tecnologia e a instituição
escolar, mais furtivamente ainda. Ou porque não há mesmo como a pedagogia
acompanhar ou se antecipar à voracidade da criação tecnológica e a seus
impactos em nossa vida e na educação. Enquanto tentamos entender os efeitos,
as causas nos passam despercebidas. O tempo urge, e a escola vive entre o não
ainda e o já passou (Gomes, 2016, p. 92).
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Este trabalho não visava a resolver os problemas da Educação Básica nacional. Na
verdade, buscou-se descrever uma proposta frutífera, aplicada em sala de aula, com o intuito de
desmistificar a ideia defendida por muitos de que as mídias sociais apenas atrapalham a
aprendizagem.
Ao analisar os dados obtidos a partir da aplicação dos questionários, foi possível
concluir que a utilização dos conteúdos elaborados pelos edutubers, disponíveis no YouTube,
pode ser muito bem-vinda no ambiente escolar, quando mediada por um docente que tenha a
sensibilidade e a humildade de perceber que ninguém aprende sozinho e de que o conhecimento,
quando não compartilhado, de nada serve para um ser humano.
Diante de tudo o que foi exposto nesta pesquisa, chega-se ao entendimento de que as
videoaulas criadas pelos edutubers podem ser utilizadas para introduzir conteúdos de
componentes curriculares, despertando a atenção dos alunos para determinados assuntos a
serem abordados e construindo, assim, conceitos que serão desenvolvidos em sala de aula.
O ser humano é gregário e aprende em sua relação com o outro e com o meio.
As redes digitais de relacionamento têm permitido e potencializado novas
formas de ser e de estar no mundo, de ensinar e de aprender. Aprende-se em
todos os lugares e, nesse sentido, podemos mesmo dizer que uma escola
fora da escola (Gomes, 2016, p. 83).
Elaborar projetos pedagógicos que visem à boa utilização de recursos tecnológicos e
multimidiáticos dispostos no dia a dia dos educandos, portanto, pode ser uma boa saída para o
educador que, consciente de sua prática pedagógica, sabe que um ambiente com elementos
motivacionais e atividades que estabeleçam uma relação coerente entre teoria e prática é
significativo para um eficiente processo de ensino-aprendizado.
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