134
Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 2 | mai-ago | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
this is recognised as such, turns into the watershed between progressive and
reactionary art praxis.[…] The central problem with this capitulation consists
in the fact that it stops at the immediacy of fetishised forms of life and, even
when their inhumanity is completely evident, it does not head towards the
essence in order to reveal the true relationships but unresistingly accepts the
fetishised surface as ultimate truth. The subjective forms of response in this
comportment can be extraordinarily diverse. Yet for the issue that is decisive
here, whether nihilism, cynicism, despair, angst, mystification, complacency,
etc. are expressed therein is only of secondary importance. The point is
whether in the given case the direction of movement in the attempted reflection
of reality is a defetishising one or whether it pseudo-artistically perpetuates
that which is fetish-like in society. (Lukacs, 2023, p.609-610, grifos nossos)
A oposição é simples: há obras que desfetichizam e outras que não. Resta-nos entender,
portanto, por que essa “nova literatura” não produz a desfetichização tão desejada por Lukács.
Ainda em Lukács, conforme Vielmi (2018), a própria discussão sobre a origem do
estético nos ajuda a compreender o fenômeno. Segundo o pesquisador brasileiro, em Lukács há
a ideia de que o estético só surge enquanto tal a partir do momento em que se distancia do útil.
O exemplo clássico trabalhado por Lukács é o do ritmo: embora esteja presente na natureza -
na materialidade, portanto - é somente quando o ritmo se liberta da esfera do trabalho e ganha
uma capacidade evocativa, direcionada à dimensão interna do homem, que se pode falar em seu
valor estético. Ou seja, em Lukács, distingue-se a ideia de que o estético é um algo além - do
social, do psicológico, etc.; e ainda que é somente quando atua de forma peculiar e estrita que
arte pode, aí sim, ter um papel libertador - ou desfetichizador, como propõe Vielmi (2018).
Assim, para nossa discussão caberia perguntar: até que ponto a literatura “reparadora” se afasta
de uma perspectiva do “útil” para se aproximar do estético? Acreditamos que muito pouco.
Isso ocorre por diversas razões. Em primeiro lugar, há que se considerar que essa
literatura é, como diz Danielle Corpas, “sem arestas” - sem maiores preocupações formais,
extremamente homogênea e “afável, palatável” (CORPAS, 2024, p.3). Para ela, a literatura
brasileira dos últimos trinta anos tem se valido de recursos previsíveis para revestir de sentido
político suas narrativas. A autora lista, entre esses recursos:
1) narradores que se mostram confiáveis, seja pela legitimidade do testemunho
do autor implícito, seja pela proximidade em relação às personagens, seja por
conta das duas coisas juntas; 2) o investimento na descrição que faz sobressair
singularidades do território onde se passa a ação, às vezes com traços
documentais e/ou tonalidade pitoresca; 3) a clareza por vezes pedagógica em
passagens da narração que soam como momentos programaticamente
destinados a esclarecer a matéria social em pauta (Corpas, 2024, p.3)
Essa literatura, formalmente uniforme e sem maiores novidades, parece estar a serviço
da transmissão de conceitos, valores e ideologias, mais preocupada com noções como