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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 2 | mai-ago | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
física. Posteriormente, a metafísica foi negada enquanto interesse principal, especialmente após
o giro linguístico, que enfocou o interesse na linguagem.
A ciência moderna acaba por institucionalizar isso pela figura da universidade (que já
era uma instituição medieval), quando o pesquisador acaba sendo uma atividade por si mesma,
desfrutando de certa liberdade em conjunto com a docência (Rossato, 2011). Porém, a
instituição acabou passando por algumas reformas, as quais foram desafiando esse papel mais
“livre”. Assim, o pesquisador passa a ser apreciado não apenas pelo seu impacto intelectual
com os pares (ilustrado, parcialmente, pelas citações), mas também por uma medição para
avaliação de qualidade. Essa nova ordem fica explicitada pelo estudo de Caregnato et al (2021),
que demonstra que muito do prestígio dos pesquisadores decorre de sua ocupação de cargos de
gestão.
Poderíamos afirmar que o cume dessa dinâmica é o Processo de Bologna:
[...] ao denominado Processo de Bolonha e às consequências que trouxe para
as instituições de ensino superior da Comunidade Europeia. Constituindo um
marco preponderante na reforma das instituições de ensino da Europa, o
Processo de Bolonha traça como objectivos principais a edificação de um
Espaço Europeu de Ensino Superior – que viabilize a internacionalização das
universidades, facilite a mobilidade de alunos e docentes, promova a
empregabilidade dos cidadãos europeus e concorra para o desenvolvimento
económico, social e humano da Europa –, a consolidação e enriquecimento da
cidadania europeia e o aumento da competitividade com outros sistemas de
ensino do mundo (em particular os dos Estados Unidos e do Japão) (Morgado,
2009, p. 50).
Como podemos observar, existe uma busca de convergência entre os interesses da
sociedade e os recursos da universidade. Alguns autores afirmaram que isso seria uma união
entre universidade e mercado, por intermédio do então chamado neoliberalismo. Afora essa
discussão, poderíamos afirmar que existe uma concepção mais pragmática:
Essa nova concepção é marcada por uma lógica mais utilitária, na qual a
Universidade é pensada como um mecanismo de qualificação profissional
para atender às demandas do mercado. Portanto, o sentido de sua atuação é
atrelado a uma visão de mundo na qual o mercado coloca-se como centro
regulador da vida social, e o direito à Universidade é entendido como direito
de acesso a melhores posições no mercado (Lopes, 2019, p.82).
Assim, existe uma decomposição da atividade científica com fins de aferição: número
de produções, número de aulas, etc. Com base nisso, são feitas as análises de gestão, o que, de
certa forma, acaba por retirar a universidade de um plano separado, da sua Torre de Marfim -
muitos autores, inclusive, afirmam que essa reforma foi já uma intervenção do mercado, e
consideram o AE como outra intervenção.