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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 2 | mai-ago | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás
Wilde, cuja personagem principal, Dorian, não consegue olhar para seu retrato, Rosa sente-se
atraída pelo retrato de outra pessoa.
Rosa Shawarzer é uma mulher comum, como tantas outras, casada, mãe de dois filhos,
tem um emprego mediado, mas sua vida foi escolhida por ela própria. Além de uma rotina
monótona, têm muitos problemas, o marido a trai, o filho mais velho com uma doença mortal,
e existe nela uma vontade enorme de morrer, o que a diferencia das demais mulheres são seus
amigos fictícios.
Os sentimentos de tristeza “[…] a tientas en el vacío incoloro e insípido de su triste vida
[…]” (Vila-Matas, 2012, p. 44), e de infelicidade tomam conta de Rosa no decorrer da narrativa,
a personagem vive em uma solidão interior, o que acaba afetando sua vida exterior, levando-a
ao delírio diário de suicídio, a personagem vive terrivelmente cansada de tudo e de todos,
perdeu o apreço pela vida e mergulhou num vazio existencial imenso, vivendo não por si, mas
pelo seu filhonecessitadode seus cuidados “[...] y que aquella sí era una verdadera razón para
seguir viviendo”
(Vila-Matas, 2012, p. 46).
Em seu emprego de vigia no museu de Dusseldorf, Rosa Schwarzer cuida de várias
obras de artes em uma sala dedicada ao pintor Paul Klee, onde há dois quadros, os quais vigia
com zelo e carinho, mais que sua própria vida, e há um em especial, chamado “Príncipe Negro”,
um sedutor africano pintado pelo artista suíço, para Rosa, vive convidando-a para entrar em seu
país. Nesse país dos suicidas, em seus delírios, emergida em uma profunda melancolia, escuta
sons vindo do quadro, um som como batidas de tambor a incita e incentiva a entrar em seu país:
[…], pues desde hace un rato, mezclándose con el sonido de la lluvia que cae
sobre el jardín del museo, ha empezado a llegarlle, procedente del cuadro El
príncipe negro, la seductora llamada del oscuro príncipe que, para invitarla a
adentrarse y perderse en el lienzo, le enviael arrogante sonido del tam-tam de
su país, país de los suicidas. (Vila-Matas, 1991, p. 43)
Para Leyla Perrone-Moisés, o fator sedutor está ligado a toda e qualquer parcela da vida
humana, portanto também à sua linguagem “o seduzido não está simplesmente entregue a
fantasia neurótica. Há nele, antes de tudo, o desejo de entrar em outra linguagem, de sair daquele
círculo em que está aprisionado [...]” (Perrone-Moisés, 1998, p. 17). Exatamente como Rosa
deseja sair da vida à qual se encontra: [...] aprovecharse de aquella ocasión, tan fácil como
inmerojable, que se le apresentaba para quitarse la vida y alcanzar la libertad al desprenderse
de todo y de todos, salir por fin de este trágico y grotesco mundo (VILA-MATAS, 1991 p. 46).
A sedução exercida pelo príncipe do quadro de Paul Klee sobre Rosa, a envolve em
todas os momentos de sua vida, todavia, a personagem não sabe, ou ao menos não é