Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE
AFRO-PERFORMANCES NOS CÂNTICOS DE TRABALHO DOS NEGROS
O colonizador europeu com sua pele branca, cabelos lisos, olhos claros, se achando
superior às raças que não têm essas características, oprimiu e escravizou tais raças consideradas
inferiores, com o período das Grandes Navegações, as descobertas de novas terras longínquas
também vieram o sofrimento de um povo que vivia suas vidas, suas tradições e costumes na
África. Lá estes povos tinham hierarquia, rei, danças e cantos diversos, todos tendo que
abandonar sua cultura e tradição à força quando o branco chegou e os capturou para o trabalho
escravo nas inúmeras colônias espalhadas no Novo Mundo.
Os negros trouxeram sua cultura, tradição e costumes para as colônias. Praticavam sua
expressão cultural nos momentos de “descanso”, ou seja, quando estavam nas senzalas, seus
cânticos ecoavam, um canto de sofrimento, alegria por algo que acontecia, por resistência
quando fugiam para os quilombos, ou simplesmente para não ter sua cultura esquecida mais do
que já estava. Em meio aos diversos cantos, os de trabalhos foram os que mais se destacaram,
haja vista funcionava não apenas como um canto qualquer, havia toda uma performance.
Segundo Tinhorão (1988), para tudo havia um ritual (canto e dança), desde assuntos
particulares como: nascimento, puberdade, casamento, morte à assuntos gerais da comunidade,
como: cataclismos, lutas de guerra, vitórias, caçadas, confraternizações, isso fora as canções e
danças das cerimônias religiosas, esse repertório, ficou conhecido como as canções de trabalho.
Essa tradição de ritual, cântico e dança, chega ao nosso território e a princípio foi combatida
com violência pelos europeus, pois consideravam esses cânticos performáticos algo vulgar e
feio. No entanto, analisando que os negros sem essas tradições ficavam tristes e produziam
menos, revogaram e permitiram com moderação.
Tinhorão (1988) afirma que os cantos nas colônias passaram a ser um meio de
comunicação entre os negros trabalhadores (escravos) compondo um jogo metafórico muito
inteligente, já que a língua era diferente da dos colonizadores. Daí, a performance, funcionando
como uma conversa, onde, por exemplo, durante o amanhecer do dia, quando os escravos iam
para a lavoura, um grupo começava entoando “Olá, companheiro”, ao passo que outro respondia
“Que é lá?” e seguia-se cantando sobre o cantar do galo, o raiá do sol, além de conter alguns
versos poéticos. O canto era acompanhado de gestos. Podemos compreender como um grito de
que os negros mesmo cativos, não estavam sós.
Tinhorão (1988) nos informa que por serem considerados vulgares e feios os cantos dos
negros, pouco se conhece sobre a originalidade do que era entoando nas lavouras ou nas cidades
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RECOCINE, v. 1. n. 3 | set-dez | 2023 | Goiânia, Goiás