a construir a fonte de relações discursivas das quais, na verdade, não são senão o portador ou o
efeito.” De acordo com Orlandi (2007, p. 30), “podemos considerar as condições de produção
em sentido estrito e temos as circunstâncias da enunciação: é o do contexto imediato. E se as
considerarmos em sentido amplo, as condições de produção incluem o contexto sócio-histórico,
ideológico”.
Possenti (2004) afirma que para a análise do discurso, os contextos imediatos somente
interessam na medida em que, mesmo neles, funcionam condições históricas de produção, ou
seja, os “contextos” fazem parte de uma história, já que, também nessas instâncias de
enunciação, os enunciadores se assujeitam à sua formação discursiva.
Os discursos não possuem uma essência, mas nascem na relação com outros discursos,
com os quais concordam, discordam, mantêm uma neutralidade aparente. Indursky (2001, p.
30) observa que, embora seja o texto um espaço discursivo heterogêneo, quando ele é
produzido, surge um sujeito interpelado ideologicamente e identificado com uma posição-
sujeito inscrita numa formação discursiva (o sujeito produz o seu texto a partir de um lugar
social e passa, então, a sujeito-autor).
Salientamos que o conceito de formação discursiva – FD criado por Pêcheux como
“matriz do sentido das palavras e expressões e que, consequentemente, estas ganham um
sentido na medida em que pertencem a uma FD”, tendo origem na teoria marxista, que
contempla a formação social, formação ideológica e formação discursiva, pode variar de sentido
devido a divisão das classes sociais (Narzerri, 2018, p. 652).
De acordo com as concepções de Michel Pêcheux, na análise o sujeito é compreendido
observando sua relação entre história e ideologia. Nesse contexto, “o sujeito, na teoria
discursiva, se constitui na relação com o outro, não sendo origem do sentido, está condenado a
significar e é atravessado pela incompletude” (Brasil, 2011). Assim, pela formação discursiva
é possível compreender o repertório lexical escolhido para representar os mesmos fatos.
Outro conceito que deve ser levado em consideração na AD é o de heterogeneidade
constitutiva do discurso. Segundo Possenti (2004), os discursos não são homogêneos, eles se
constituem de outros em relação aos quais mantém proximidade ou oposição, ou seja, um
discurso nunca está sozinho, ele está sempre ligado a um outro mesmo que esse outro não
apareça explicitamente.
Os textos passam a ser vistos como heterogêneos a partir da fase três da AD, proposta
por Pêcheux. E essa heterogeneidade pode, muitas vezes, deixar marcas no discurso, o que pode
ser chamado de heterogeneidade mostrada e marcada de diferentes maneiras. Um dos sinais que
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Revista Coletivo Cine-Fórum – RECOCINE | v. 2 - n. 1 | jan-abr | 2024 | ISSN: 2966-0513 | Goiânia, Goiás